REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em algumas regiões do país, a sabedoria popular há muito receita leite de cabra para quem quer prevenir cáries. Agora, uma pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) quer adicionar a ele mais uma propriedade terapêutica: combater a pressão arterial alta.
Cientistas da Embrapa Caprinos, em Sobral (interior do Ceará), identificaram no leite caprino uma proteína chamada caseína, capaz de agir contra a hipertensão. Ela está sendo estudada pelo pesquisador Antonio Sílvio do Egito. Testes preliminares, in vitro, já mostraram que ela tem ação anti-hipertensiva.
Ele havia isolado a mesma substância no leite de égua durante seu doutorado, na França.
"Na Rússia e na Mongólia, esse tipo de leite é tradicionalmente recomendado a pessoas doentes", explica o pesquisador. Aproveitando o fato de que o leite de égua ainda não tinha suas proteínas estudadas, Egito verificou que um fragmento da caseína (um peptídeo) tinha a capacidade de inativar uma enzima que induz os vasos a se contraírem, aumentando, assim, a pressão sanguínea.
De volta ao Brasil, o pesquisador passou a comparar a composição das proteínas do leite de cabra com as que ele havia isolado, encontrando também a caseína. A idéia, agora, é isolar um peptídeo equivalente ao do leite de égua que possa se transformar, no futuro, num medicamento.
"Sabendo qual peptídeo age para neutralizar a enzima, seria possível produzi-lo em laboratório", afirma Egito. "Ainda não é possível saber se o medicamento produzido a partir do leite do cabra seria mais eficaz ou teria menos efeitos colaterais", ressalva.
"Mas o grupo francês com quem eu trabalhei desenvolveu um calmante a partir de uma proteína do leite de vaca que não demonstrou ter efeitos colaterais", conta. "A idéia é valorizar o leite de cabra, não só como alimento, mas também como remédio."



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