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Novo acelerador caça respostas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se tudo der certo, a partir de 2007
um viajante de outra dimensão, vai
aportar num quilométrico labirinto
circular subterrâneo perto da fronteira da França com a Suíça, no
Cern. Os Kaluza-Klein, como são
apelidados os viajantes, no entanto,
são muito furtivos. Os físicos de partículas vão ter de se contentar em ver
apenas os rastros deixados pelos viajantes da outra dimensão.
Mas se as pegadas dessa entidade
aparecerem em alguns poucos dos
inúmeros riscos e trajetórias encaracoladas que ficam registrados nos
detectores do gigantesco colisor de
prótons do Cern, estará provada a
existência de outra dimensão oculta
que pode estar sob nossos narizes
sem que seja notada, conforme sugere Lisa Randall.
O LHC, o Grande Colisor de Hádrons (o próton é um hádron), que
começa a operar em 2007, vai ter potência sete vezes maior do que a
maior máquina aceleradora de partículas da atualidade (o Tevatron, do
Fermilab, nos Estados Unidos).
O grande colisor do Cern é como
uma superpista onde dois feixes de
prótons, acelerados em direções
opostas, colidem numa área cheia de
detectores. A colisão quebra os prótons e, além dos cacos, gera energias
suficientes para criar novas partículas, segundo a fórmula E=mc2. Como as energias são muito altas, aparecerão partículas muito pesadas,
que não existem livres na natureza.
Uma delas pode ser a chamada Kaluza-Klein, segundo espera Randall.
Essa entidade na verdade está prevista desde 1920, quando os físicos
Theodor Kaluza e Oskar Klein resolveram adicionar mais dimensões às
equações relativísticas de Einstein.
O físico Steven Weinberg, Prêmio
Nobel de 1979, acha que 2007 vai ser
a arrancada para completar, em 50
anos de trabalho, a unificação da física sonhada por Einstein. O acelerador do Cern vai contribuir decisivamente para isso, mas, como já disse
Mark Twain, o ritmo alucinado das
novas descobertas aumenta cada vez
mais a nossa ignorância. As descobertas experimentais registradas no
Cern vão criar novos mistérios, mas
vão também dar mais algumas peças
desse quebra-cabeça que é o chamado modelo padrão, uma espécie de
tabela periódica das partículas.
O Cern espera, por exemplo, detectar o chamado bóson de Higgs,
uma misteriosa entidade que faz as
partículas (todas elas) terem massa.
Mas o sonho final de unificação de
todas as forças provavelmente vai
ser uma proeza apenas da mente humana. Um colisor de partículas que
permitisse recriar experimentalmente o instante inicial do Universo
teria de ter uma circunferência superior a um ano-luz (para se ter uma
idéia, a distância da Terra ao Sol é de
oito minutos-luz).
(FCS)
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