São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Novo acelerador caça respostas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se tudo der certo, a partir de 2007 um viajante de outra dimensão, vai aportar num quilométrico labirinto circular subterrâneo perto da fronteira da França com a Suíça, no Cern. Os Kaluza-Klein, como são apelidados os viajantes, no entanto, são muito furtivos. Os físicos de partículas vão ter de se contentar em ver apenas os rastros deixados pelos viajantes da outra dimensão.
Mas se as pegadas dessa entidade aparecerem em alguns poucos dos inúmeros riscos e trajetórias encaracoladas que ficam registrados nos detectores do gigantesco colisor de prótons do Cern, estará provada a existência de outra dimensão oculta que pode estar sob nossos narizes sem que seja notada, conforme sugere Lisa Randall.
O LHC, o Grande Colisor de Hádrons (o próton é um hádron), que começa a operar em 2007, vai ter potência sete vezes maior do que a maior máquina aceleradora de partículas da atualidade (o Tevatron, do Fermilab, nos Estados Unidos).
O grande colisor do Cern é como uma superpista onde dois feixes de prótons, acelerados em direções opostas, colidem numa área cheia de detectores. A colisão quebra os prótons e, além dos cacos, gera energias suficientes para criar novas partículas, segundo a fórmula E=mc2. Como as energias são muito altas, aparecerão partículas muito pesadas, que não existem livres na natureza.
Uma delas pode ser a chamada Kaluza-Klein, segundo espera Randall. Essa entidade na verdade está prevista desde 1920, quando os físicos Theodor Kaluza e Oskar Klein resolveram adicionar mais dimensões às equações relativísticas de Einstein.
O físico Steven Weinberg, Prêmio Nobel de 1979, acha que 2007 vai ser a arrancada para completar, em 50 anos de trabalho, a unificação da física sonhada por Einstein. O acelerador do Cern vai contribuir decisivamente para isso, mas, como já disse Mark Twain, o ritmo alucinado das novas descobertas aumenta cada vez mais a nossa ignorância. As descobertas experimentais registradas no Cern vão criar novos mistérios, mas vão também dar mais algumas peças desse quebra-cabeça que é o chamado modelo padrão, uma espécie de tabela periódica das partículas.
O Cern espera, por exemplo, detectar o chamado bóson de Higgs, uma misteriosa entidade que faz as partículas (todas elas) terem massa.
Mas o sonho final de unificação de todas as forças provavelmente vai ser uma proeza apenas da mente humana. Um colisor de partículas que permitisse recriar experimentalmente o instante inicial do Universo teria de ter uma circunferência superior a um ano-luz (para se ter uma idéia, a distância da Terra ao Sol é de oito minutos-luz). (FCS)


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