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Obra busca explicar fraqueza da atração gravitacional
Força que faz massas se atraírem seria "diluída" num mundo que
tivesse mais de quatro dimensões, três espaciais e uma de tempo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A maçã que se esborrachou na
cabeça de sir Isaac Newton,
diz a lenda, acordou-o com
um lampejo que iluminaria
toda a história futura. A mesma força que acertou a fruta madura na sua
cabeça era a que mantinha a Lua e os
astros em suas órbitas celestiais,
concluiu Newton.
A física teórica Lisa Randall também teve o seu encontro duro com a
gravidade, mas em vez de estalo
criativo acordou num helicóptero,
voando às pressas para o hospital,
com o calcanhar quase destruído e
escoriações generalizadas. Ela foi
acidentalmente atraída pela gravidade, quando escalava uma rocha no
Parque Nacional de Yosemite.
A pancada gravitacional teve sua
compensação, como no caso de
Newton. Durante vários meses, presa a uma cama com a perna engessada, rascunhou o recém-lançado
"Warped Passages" e pôde refletir
ironicamente sobre a gravidade.
A ironia é que seus trabalhos acadêmicos tentam explicar justamente
o que os físicos consideram ser a
desprezível fraqueza dessa força, em
comparação com todas as outras conhecidas. Se a força da gravidade
fosse um pouco mais forte, o tombo
de Yosemite resultaria num bonito
epitáfio: aqui jaz a jovem Lisa Randall, a física teórica mais citada nos
últimos cinco anos, aquela para
quem o inglês Stephen Hawking
guarda o lugar na mesa enquanto ela
vai ao pódio dar suas esotéricas palestra teóricas, sobre dimensões adicionais ocultas do nosso Universo.
A fraqueza da força gravitacional
sempre foi uma pedra no sapato da
física. É o que os cientistas chamam
de "questão hierárquica": a gravidade é dezenas de milhões de bilhões
de vezes mais fraca do que seria de se
esperar no chamado modelo padrão
da física de partículas. Em termos
práticos, como gosta de explicar
Randall, basta um ímã para anular
toda a força gravitacional do planeta
sobre um clipe ou um grampo de papel.
"Warped Passages" não é, portanto, uma obra de exploração dos
mundos com mais dimensões, mas
sim uma que usa o recurso de uma
dimensão adicional oculta para explicar a debilidade da força gravitacional. Não espere encontrar especulações sobre como poderiam ser
os seres grotescos ou formidáveis de
uma dimensão onde a força da gravidade é tão poderosa.
Mas ao longo do livro vão aparecer
coisas espantosamente exóticas como as branas, o nome genérico da
nossa popular membrana que é uma
brana particular de somente três dimensões, como o couro de um tambor. Quando ressoa, ele obedece a
equações matemáticas da mesma
forma que uma corda de violino.
A totalidade do Universo é uma
coisa chamada "bulk", ou "espaço
de imersão", com muitas dimensões. Dentro dele podem existir várias branas-mundo, também de dimensões variadas, mas sempre com
menos dimensões que o "bulk". Vivemos numa brana privilegiada (do
nosso ponto de vista, claro), com
três dimensões espaciais e o tempo.
Mas por algum acidente cósmico
ou por força de alguma lei desconhecida, a força da gravidade, que faz
maçãs e alpinistas despencarem,
não mora na nossa brana. Estão
quase grudadas em outra, batizada
de brana-Planck, onde ela reina absoluta e com potência plena.
Quando Randall e seu colega Raman Sundrum fizeram as contas,
descobriram que o caminho entre as
branas contidas no "bulk", o nosso
Universo, era fortemente torcido.
Quer dizer, a força da gravidade (ou
os grávitons, suas partículas portadoras) tinha de desgrudar da brana-Planck e se retorcer para vazar até a
nossa brana, a que contém todas as
galáxias visíveis. Por essa razão a
gravidade chega aqui tão fraca, teoriza a pesquisadora americana.
(FCS)
Warped Passages: Unraveling the
Mysteries of the Universe's Hidden Dimensions
512 págs., US$ 27,95
de Lisa Randall. Ecco, 2005 (EUA)
Onde encomendar: www.amazon.com
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