São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Obra busca explicar fraqueza da atração gravitacional

Força que faz massas se atraírem seria "diluída" num mundo que tivesse mais de quatro dimensões, três espaciais e uma de tempo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A maçã que se esborrachou na cabeça de sir Isaac Newton, diz a lenda, acordou-o com um lampejo que iluminaria toda a história futura. A mesma força que acertou a fruta madura na sua cabeça era a que mantinha a Lua e os astros em suas órbitas celestiais, concluiu Newton.
A física teórica Lisa Randall também teve o seu encontro duro com a gravidade, mas em vez de estalo criativo acordou num helicóptero, voando às pressas para o hospital, com o calcanhar quase destruído e escoriações generalizadas. Ela foi acidentalmente atraída pela gravidade, quando escalava uma rocha no Parque Nacional de Yosemite.
A pancada gravitacional teve sua compensação, como no caso de Newton. Durante vários meses, presa a uma cama com a perna engessada, rascunhou o recém-lançado "Warped Passages" e pôde refletir ironicamente sobre a gravidade.
A ironia é que seus trabalhos acadêmicos tentam explicar justamente o que os físicos consideram ser a desprezível fraqueza dessa força, em comparação com todas as outras conhecidas. Se a força da gravidade fosse um pouco mais forte, o tombo de Yosemite resultaria num bonito epitáfio: aqui jaz a jovem Lisa Randall, a física teórica mais citada nos últimos cinco anos, aquela para quem o inglês Stephen Hawking guarda o lugar na mesa enquanto ela vai ao pódio dar suas esotéricas palestra teóricas, sobre dimensões adicionais ocultas do nosso Universo.
A fraqueza da força gravitacional sempre foi uma pedra no sapato da física. É o que os cientistas chamam de "questão hierárquica": a gravidade é dezenas de milhões de bilhões de vezes mais fraca do que seria de se esperar no chamado modelo padrão da física de partículas. Em termos práticos, como gosta de explicar Randall, basta um ímã para anular toda a força gravitacional do planeta sobre um clipe ou um grampo de papel.
"Warped Passages" não é, portanto, uma obra de exploração dos mundos com mais dimensões, mas sim uma que usa o recurso de uma dimensão adicional oculta para explicar a debilidade da força gravitacional. Não espere encontrar especulações sobre como poderiam ser os seres grotescos ou formidáveis de uma dimensão onde a força da gravidade é tão poderosa.
Mas ao longo do livro vão aparecer coisas espantosamente exóticas como as branas, o nome genérico da nossa popular membrana que é uma brana particular de somente três dimensões, como o couro de um tambor. Quando ressoa, ele obedece a equações matemáticas da mesma forma que uma corda de violino.
A totalidade do Universo é uma coisa chamada "bulk", ou "espaço de imersão", com muitas dimensões. Dentro dele podem existir várias branas-mundo, também de dimensões variadas, mas sempre com menos dimensões que o "bulk". Vivemos numa brana privilegiada (do nosso ponto de vista, claro), com três dimensões espaciais e o tempo.
Mas por algum acidente cósmico ou por força de alguma lei desconhecida, a força da gravidade, que faz maçãs e alpinistas despencarem, não mora na nossa brana. Estão quase grudadas em outra, batizada de brana-Planck, onde ela reina absoluta e com potência plena.
Quando Randall e seu colega Raman Sundrum fizeram as contas, descobriram que o caminho entre as branas contidas no "bulk", o nosso Universo, era fortemente torcido. Quer dizer, a força da gravidade (ou os grávitons, suas partículas portadoras) tinha de desgrudar da brana-Planck e se retorcer para vazar até a nossa brana, a que contém todas as galáxias visíveis. Por essa razão a gravidade chega aqui tão fraca, teoriza a pesquisadora americana. (FCS)


Warped Passages: Unraveling the Mysteries of the Universe's Hidden Dimensions
512 págs., US$ 27,95
de Lisa Randall. Ecco, 2005 (EUA)
Onde encomendar: www.amazon.com



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