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Novo impasse atrapalha base de foguete
Comunidade quilombola impede pesquisadores de fazerem levantamento socioambiental em Alcântara, no Maranhão
Disputa territorial acabou, mas empresa não consegue realizar estudo de impacto, o que pode atrasar voo de foguete previsto para 2010
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Mesmo após a última disputa
territorial entre quilombolas e
o Programa Espacial brasileiro
ter sido resolvida, a construção
de uma nova base para lançar
foguetes em Alcântara (MA) está gerando conflito. Segundo a
ACS (Alcântara-Cyclone Space) -empresa binacional brasileira e ucraniana que vai se instalar no local- comunidades
da região impedem a realização
de um estudo de impacto ambiental e um levantamento socioeconômico da região.
O impasse, diz a empresa,
atrasa o cronograma de seu primeiro lançamento, programado para 2010. Desde outubro do
ano passado, a ACS abdicou
áreas pleiteadas pelos quilombolas das comunidades de Mamuna e Baracatatiua, dando
fim a uma disputa de seis anos.
Agora, a binacional ficará no
Centro de Lançamento de Alcântara, da Aeronáutica, vizinho à área. Para começar suas
construções, porém, a ACS precisa entregar ao Ibama um estudo de impacto com dados de
vários pontos da região, o que
requer a entrada de funcionários em território quilombola.
"Para fazer esse estudo, temos de pegar materiais além do
nosso sítio, mas eles [quilombolas] não deixam", disse à Folha Gustavo Tourinho, assessor de imprensa da ACS. "E, para deitar um único tijolo lá, precisamos do estudo."
O que perturbou o aparente
acordo atingido após a ACS abdicar áreas das comunidades é
que, apesar de o Incra já ter dado início à demarcação das terras, a vitória quilombola é parcial. Segundo a antropóloga
Maristela de Paula Andrade, da
Universidade Federal do Maranhão, comunidades têm receio
em deixar a ACS entrar na área,
temendo perder mais terras.
"Esse recuo da empresa se
deveu à resistência dos trabalhadores, porque os engenheiros simplesmente entraram
com as máquinas dentro do povoado, começaram a fazer perfuração e derrubaram mata
sem autorização", diz. "Existe
uma história recente muito
complicada, e essa empresa
[ACS] tem um significado político. Houve várias tentativas de
expropriar essas famílias, e eles
estão resistindo há cinco ou
seis presidentes da República."
Em agosto último, uma barricada chegou a ser feita, conta
Benedito Carvalho, representante do Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara.
Houve tensão, mas não conflito. "Agora, não há a possibilidade de sairmos de lá", diz. Carvalho está em Belém agora para o
Fórum Social Mundial, que começou ontem e terá eventos sobre a causa quilombola.
Para Carvalho, o problema é
que parte dos descendentes já
foram expulsos das terras na
década de 1980, à época da criação da base. E, segundo ele, o
governo federal não cumpriu
promessas como incentivo à
agricultura familiar e assistência médica. "Se eles não cumpriram aquilo, porque a gente
vai acreditar agora?"
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