São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Legislação britânica é a primeira no mundo a permitir criação de embriões humanos para pesquisa científica

Reino Unido libera clonagem terapêutica

DA REDAÇÃO

A partir de agora, cientistas do Reino Unido podem produzir embriões humanos para uso em experimentos científicos. Um comitê da Câmara dos Lordes britânica decidiu ontem que a clonagem terapêutica deve ser permitida, sob certas condições.
A legislação é a primeira no mundo a autorizar a criação de embriões especificamente para pesquisa. Há países em que o uso de embriões em experimentos é permitido, mas somente os produzidos por clínicas de fertilização, que seriam descartados de qualquer maneira caso não fossem usados pelos doadores.
A lei já havia sido instituída no ano passado, mas sua aplicação havia sido suspensa pela Justiça britânica em novembro, após intensos protestos de grupos antiaborto. Além de argumentar contra a criação de embriões já destinados à eliminação -uma vez que é necessário destruí-los para extrair as células úteis às pesquisas médicas-, eles afirmavam que a liberação era o primeiro passo para o desenvolvimento da clonagem reprodutiva, que segue vetada no Reino Unido.
O governo britânico tratou de revisar a lei, que foi confirmada em corte no mês passado. Mas ficou decidido que os cientistas esperariam até o veredicto do comitê da Câmara dos Lordes para prosseguir com suas pesquisas.
O líder do comitê, Richard Harries, bispo de Oxford, disse que as células tiradas de embriões com duas semanas poderiam ser cruciais para pesquisas que busquem a cura para doenças degenerativas, como os males de Parkinson e Alzheimer. "Concluímos que para isso ser totalmente obtido, nenhuma avenida de pesquisa deveria ser bloqueada neste momento", disse Harries ontem.
A Associação Médica Britânica emitiu ontem um comunicado apoiando a decisão. "Essas pesquisas oferecem esperança real a milhões de portadores de Alzheimer, Parkinson e diabetes."
A razão pela qual os pesquisadores acreditam nessas pesquisas é o fato de certas células do embrião -as chamadas células-tronco- serem capazes de se transformar em qualquer tecido, potencialmente regenerando danos hoje em dia irreparáveis.
O ator americano Christopher Reeve, por exemplo, sofreu um dano irreparável em sua coluna, que o deixou paraplégico. Ele acredita que as células-tronco embrionárias um dia poderão ajudá-lo a voltar a andar.
Célebre por ter vivido o Super-Homem no cinema, Reeve é um dos maiores defensores das pesquisas, e diz que irá ao Reino Unido para se tratar. A legislação americana é muito mais severa quanto ao uso de células-tronco embrionárias (só permite estudos suportados por financiamento federal com linhagens já estabelecidas, mas não autoriza a criação de novas). "Eu iria ao Reino Unido. Eu iria a qualquer lugar para terapia segura e que poderia obter a meta da recuperação", disse.
A legislação segue polêmica, entretanto, e a resistência existe nos mesmos termos. Ativistas acreditam que o governo está colocando a primazia científica acima das questões éticas e morais envolvidas na criação de embriões. E continuam temendo que a clonagem terapêutica seja um convite à clonagem reprodutiva.
"Pelo menos deveria haver uma moratória internacional à clonagem de embriões até que um banimento sobre a clonagem reprodutiva estivesse em ação", afirma a ONG Human Genetics Alert.


Com agências internacionais

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