|
Próximo Texto | Índice
MEDICINA
Tratamento francês combate doença hereditária sem ajuda de outras drogas; resultado precisa ser confirmado
Terapia genética tem primeiro êxito
ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local
Pela primeira vez, um método
chamado terapia genética reverteu os efeitos de uma doença hereditária sem a ajuda de outras
drogas. Pesquisadores franceses
corrigiram um gene do corpo humano e assim trataram um distúrbio no sistema de defesa.
No estudo, publicado na revista
"Science", dos EUA, dois bebês
que sofriam de uma doença chamada imunodeficiência combinada grave ligada ao cromossomo X (SCID-X1, na sigla em inglês) foram tratados com sucesso.
Mas ainda é cedo para dizer que
a doença foi totalmente curada.
Apesar de os autores afirmarem
no estudo que a terapia corrigiu a
doença, Jennifer Puck, dos Institutos Nacionais de Saúde, dos
EUA, disse que é preciso observar
se os resultados são duradouros.
Pacientes que sofrem de SCID
são obrigados a viver em ambientes completamente isolados (como o personagem de John Travolta no filme "O Rapaz da Bolha
de Plástico"), pois o sistema de
defesa (imunológico) é incapaz de
proteger o corpo de infecções.
Mutações em diferentes tipos de
genes podem resultar em SCID.
No caso dos bebês da pesquisa, a
SCID impedia que eles fossem capazes de produzir os glóbulos
brancos, células do sistema imunológico que previnem infecções.
O tratamento que existe para essa doença é o transplante de medula óssea, que torna o corpo hábil a produzir os glóbulos brancos. No entanto, nem sempre os
resultados são positivos e, por isso, os cientistas esperam fazer da
terapia genética uma alternativa.
O primeiro teste de terapia genética para tratar uma menina
que sofria de uma forma de SCID
aconteceu há quase dez anos.
Nesse caso, a paciente teve o gene
correto inserido em glóbulos
brancos "maduros" e continuou a
receber um preparado que continha a proteína que era defeituosa
no seu organismo.
Proteína sinalizadora
No novo estudo, os cientistas retiraram dos bebês células-tronco
da medula óssea. Essas células,
que ainda não se especializaram,
são capazes de dar origem a outras células do corpo. Elas foram,
então, incubadas com um vírus
inofensivo, que continha o gene
que produzia corretamente a proteína defeituosa (veja quadro).
Essa proteína funciona como
um sinal para que as células do
sistema de defesa se desenvolvam, cresçam e se espalhem pelo
corpo, destruindo os invasores.
Depois de três dias infectando
as células com o vírus, os cientistas transplantaram as células de
volta nos bebês.
Novas células contendo a versão correta do gene foram identificadas no corpo 15 dias após o
transplante. E os bebês foram capazes de responder às vacinas
contra tétano, difteria e poliomielite, produzindo anticorpos.
Já se passaram dez meses desde
o transplante, e os bebês estão em
casa, saudáveis, sem receber nenhum tratamento adicional.
O autor do estudo, Alain Fischer, do Hospital Necker de Paris,
disse que o sucesso do tratamento
pode estar mais relacionado ao tipo de doença do que à técnica em
si. Isso porque as células que têm
a cópia correta do gene se multiplicam mais rapidamente que as
que têm o gene defeituoso. Assim,
mesmo que inicialmente o número de células transformadas seja
baixo, o tratamento funciona.
Segundo disse à Folha Inder
Verma, do laboratório de genética do Instituto Salk, nos EUA, outras doenças do sistema imunológico poderão receber o mesmo
tratamento com sucesso.
O grupo francês já anunciou
que está testando a terapia em um
terceiro paciente.
Próximo Texto: Técnica causa problemas nos EUA Índice
|