São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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GEOLOGIA

Estudo da USP relacionou regiões brasileiras a Rodínia, massa de terra que havia no planeta há 1 bilhão de anos

Grupo encaixa Brasil em paleocontinente

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo conseguiu mostrar onde estavam as atuais regiões brasileiras em Rodínia, um supercontinente que reunia as terras do planeta há cerca de 1 bilhão de anos.
A equipe do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) está ajudando a reformular o mapa do continente primordial e está conseguindo evidências importantes sobre o clima desse período, que foi crucial para o surgimento das formas de vida que existem hoje na Terra.
Igor Ivory Gil Pacca, coordenador da equipe do IAG, conta que a conformação geográfica de Rodínia (nome que significa "Terra Mãe" em russo) foi esboçada pela primeira vez pelo pesquisador norte-americano Paul Hoffman, usando principalmente a evidência de acidentes tectônicos, como a formação de grandes cadeias de montanhas criadas pelo choque entre as massas de terra.
"No entanto, como essas rochas sofreram muito desgaste, esse tipo de evidência nem sempre é muito preciso", explica o pesquisador da USP. Foi então que eles passaram a usar o paleomagnetismo -técnica que registra as mudanças no campo magnético da Terra ao longo do tempo- para melhorar o quadro de Hoffman.
"É como se houvesse um grande ímã no eixo de rotação da Terra", explica Pacca. "Quando as rochas se formam, elas recebem uma marca de polaridade magnética, indicando se elas estavam mais perto ou mais longe dos pólos. Embora elas se desloquem no decorrer do tempo, isso ajuda a saber onde elas estavam", afirma.
Usando rochas colhidas em regiões da América do Sul e da África, os cientistas chegaram a um desenho que põe a atual Amazônia colada a sudeste da atual América do Norte e próxima da Escandinávia (veja quadro à dir.).
De acordo com Ricardo Trindade, pesquisador da equipe, o grupo conseguiu evidências de que, nessa época, a formação de rochas absorveu gás carbônico da atmosfera, gerando um efeito estufa às avessas: "Aconteceram glaciações globais, até o Equador. A temperatura pode ter chegado a -50C", afirma.
Depois do frio, a grande atividade de vulcões levou o planeta ao outro extremo, aquecendo a Terra a até 50C positivos. "Esses mecanismos de estresse criaram uma enorme pressão ambiental sobre os seres vivos, que então eram todos unicelulares", diz Trindade. As variações podem ter contribuído para o aumento da complexidade das formas de vida, que se tornaram multicelulares.



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