São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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BIOLOGIA

Achado desafia conceito tradicional de evolução

Duas espécies de mosca se unem e se transformam numa só nos EUA

Guy Bush/Divulgação
Mosca-das-frutas do gênero Rhagoletis, que parece ter híbrido


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas moscas-das-frutas americanas estão derrubando alguns dogmas sobre como a evolução acontece. Os insetos, ao "se mudar" para um novo tipo de planta, cruzaram mesmo sem pertencer à mesma espécie -gerando um terceiro e novo tipo de mosca.
"Estávamos no lugar e na hora certos para reconhecer essa [nova] espécie", declarou à Folha Bruce McPheron, pesquisador da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA). "Acho que nosso estudo revelou um sistema que pode ser muito comum", ao contrário do que dizia a maioria dos biólogos evolucionistas, para quem uma coisa dessas -duas espécies virarem uma só- era praticamente impossível em animais.
O trabalho está na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com). Como o próprio McPheron reconhece, a pesquisa tirou partido de uma série de coincidências felizes. Para começar, as mosquinhas fazem parte do que os cientistas chamam de complexo de espécies. "Esse termo se refere a um grupo de espécies que são praticamente idênticas, mas têm diferenças em seus hábitos. É uma situação relativamente comum entre insetos", diz.
Acontece que duas espécies do complexo, a Rhagoletis mendax e a Rhagoletis zephyria, parecem ter se "enganado" de planta hospedeira. Normalmente, tais mosquinhas são muito exigentes, especialmente as fêmeas, que sempre habitam a mesma espécie de planta e só cruzam com os machos nesses vegetais.
Há cerca de 250 anos, um arbusto europeu, do gênero Lonicera, foi trazido para a América do Norte. Por "engano", num passado ainda indefinido, moscas de uma das espécies se mudaram para os arbustos, que produzem frutas vermelhas. Parece que outro "erro de endereço" ocorreu logo depois, porque a elas logo se juntaram moscas da outra espécie.
O resultado do encontro foi uma mistura, detectada agora pelos cientistas com base em análises do DNA. "As moscas da Lonicera dão todas as indicações genéticas e ecológicas de serem uma entidade auto-sustentada. Ou seja uma espécie", conclui ele.
Se os pesquisadores estiverem corretos, as implicações vão muito além de um obscuro grupo de moscas. Animais que precisam de um hospedeiro específico, como elas, podem representar nada menos que 50% das espécies do grupo no planeta. E a hipótese é que esses nichos específicos, talvez criados pela modificação de ambientes pelas pessoas (como é o caso dos arbustos Lonicera), sejam o lugar ideal onde novos híbridos poderiam prosperar.


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