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Ciência rural turbina publicação no país
Brasil detém 2,12% da produção mundial de artigos científicos, mas desempenho é desigual entre as áreas
Campos como sociologia e psicologia, que têm nos livros seu principal veículo e usam pouco o inglês, saíram-se mal
RICARDO MIOTO
ENVIADO A NATAL
Se todos os pesquisadores
brasileiros produzissem como os da área de ciências
agrárias, o peso científico do
país hoje seria equivalente
ao da França. Já campos como psicologia, economia e
ciências sociais, bem inferiores à média nacional, puxam
a produtividade para baixo.
Os dados que permitem essas conclusões foram apresentados pelo presidente do
CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico
e Tecnológico), Carlos Aragão, na reunião da Sociedade
Brasileira para o Progresso
da Ciência, em Natal (RN).
A medida usada nas estatísticas é o número de artigos
publicados em revistas científicas mundo afora, indexados (cadastrados) em bases
de dados internacionais.
"A ciência brasileira, apesar de aceita como uma ciência de qualidade, ainda não
tem protagonismo mundial.
São poucas as áreas em que
você pode dizer que um grupo brasileiro causou uma
verdadeira mudança de paradigma", disse Aragão.
"Tanto que, nas reuniões
da Academia Brasileira de
Ciências, sempre alguém
pergunta por que ainda não
temos um Prêmio Nobel. Claro que um Nobel não é tudo,
mas é um indicador de liderança científica."
Na média, o país vem, porém, melhorando rapidamente. Só entre 2007 e 2008,
o número de artigos publicados em revistas científicas internacionais cresceu de 19
mil para 30 mil -e o país subiu da 15ª para a 13ª posição
no ranking mundial.
MARGEM DE ERRO
O bioquímico Rogério Meneghini, especializado em
medições de produtividade
científica, lembra que pode
existir uma margem de erro
nas comparações.
Segundo Meneghini, elas
funcionam para definir quais
são os extremos, o que há de
melhor e pior na pesquisa nacional, mas as áreas com notas intermediárias precisam
ser analisadas caso a caso.
Isso porque a base internacional na qual os dados estão
não separa os trabalhos científicos em campos -é necessário fazer buscas por palavras relacionadas à área.
Para Meneghini, é preciso
ter cuidado especialmente
em áreas interdisciplinares,
como a bioquímica. "São
áreas menos definidas e,
conforme as palavras usadas
numa busca, aparecem resultados diferentes. Nas pesquisas que fiz, a bioquímica
está perto da média."
Segundo ele, a baixa produção das ciências humanas
se relaciona com a dedicação
maior dos pesquisadores da
área aos livros e coletâneas.
"Em outros lugares, como
a Espanha, não é assim. Mesmo na França, de onde o Brasil herdou boa parte dessa
sua maneira de fazer ciências
humanas, o perfil da produção já está mudando", diz.
Além disso, faria bem para
a ciência brasileira que todas
as suas áreas passassem a
publicar mais em inglês, dizem os especialistas.
"É necessário aceitar que o
inglês é língua franca", diz
Aragão. "Já está na hora de
escrever em inglês."
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