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CIÊNCIA
Boeing diz confiar no projeto espacial do Brasil
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Cientistas, empresas e instituições responsáveis pelo projeto da
Estação Espacial Internacional
(ISS na sigla em inglês) se dizem
confiantes na participação do
Brasil, apesar dos atrasos do país
no pagamento de seus compromissos.
Mas, conforme Wayne Esser,
diretor de produtos globais da
Boeing (a quem o Brasil está devendo cerca de US$ 3,5 milhões),
em algum momento as promessas brasileiras serão cobradas.
Esser foi um dos participantes
de seminário realizado esta semana no Rio, com a presença de 300
pessoas, pela Brazsat, empresa
brasileira da área espacial.
Esser afirmou à Folha que espera receber o atrasado em "algumas semanas". Disse compreender que os problemas financeiros
e políticos que o país vem atravessando em 1999 retardam o cumprimento de suas obrigações.
Devido ao que ele considera ser
um "firme comprometimento"
das autoridades brasileiras, Esser
acha que o projeto com o país
prosseguirá sem percalços.
O Brasil é o único país em desenvolvimento entre os 16 construtores da ISS, que deverá estar
totalmente concluída em 2004.
O custo total do projeto está orçado em US$ 60 bilhões. Estima-se que o Brasil vá gastar US$ 150
milhões para fornecer os seis
equipamentos que lhe cabem.
Em troca, o país terá espaço na
ISS para realizar suas experiências
científicas, observar o território
nacional e enviar astronautas.
A ISS será quatro vezes maior
do que a Mir, russa, mais importante estação já colocada no espaço, que será desativada este ano.
Raymond Askew, conselheiro
especial da Nasa (a agência espacial dos EUA), fez a síntese dos
dois dias de debates no Rio.
Para ele, as conferências ali ouvidas mostraram o quanto o Brasil pode se beneficiar com suas
atividades científicas espaciais.
Por exemplo, por meio da telemedicina e da pesquisa para a
descoberta de novos medicamentos para o combate a doenças como dengue ou mal de Chagas.
Para que isso ocorra, alerta Askew, o governo brasileiro deve ser
"consistente e constante" em seu
compromisso com o programa
espacial, a indústria precisa produzir mais "trabalhadores habilitados" e a sociedade tem de "acreditar que o investimento em espaço irá resultar em melhor padrão
de vida" para todos.
O Brasil gasta cerca de US$ 100
milhões por ano em seu programa espacial, um dos mais antigos
e respeitados entre os de países
em desenvolvimento. A Índia
despende em torno de US$ 300
milhões anuais em espaço.
Um dos exemplos citados no seminário da Brazsat como benéficos para o Brasil e que podem ser
desenvolvidos no espaço foi o de
desenvolvimento de cristais de
proteína com fins farmacêuticos.
Lawrence DeLucas, diretor do
Centro para Cristalografia Macromolecular, disse ter evidências, após ter realizado experimentos em 37 missões de ônibus
espaciais, para dizer que as condições de microgravidade do espaço resultam em cristais de proteína maiores e melhor formados.
Segundo ele, os casos em que os
cristais de proteína obtidos no espaço não foram superiores aos
conseguidos em Terra nas mesmas condições foram aqueles em
que os vôos foram muito curtos.
Com a ISS, as experiências com
cristais de proteína podem ser feitas por tempo indeterminado.
Um dirigente da empresa canadense MacDonald Dettwiler, David Whitton, anunciou que está
procurando um parceiro no Brasil para investir em espaço.
O próximo grande acontecimento do programa espacial brasileiro é o lançamento, em 15 de
outubro, do centro de Taiyuan,
em Shanxi, na China, do satélite
CBERS-1, que Brasil e China desenvolveram com objetivos de
sensoriamento remoto.
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