São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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CIÊNCIA
Boeing diz confiar no projeto espacial do Brasil

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Cientistas, empresas e instituições responsáveis pelo projeto da Estação Espacial Internacional (ISS na sigla em inglês) se dizem confiantes na participação do Brasil, apesar dos atrasos do país no pagamento de seus compromissos.
Mas, conforme Wayne Esser, diretor de produtos globais da Boeing (a quem o Brasil está devendo cerca de US$ 3,5 milhões), em algum momento as promessas brasileiras serão cobradas.
Esser foi um dos participantes de seminário realizado esta semana no Rio, com a presença de 300 pessoas, pela Brazsat, empresa brasileira da área espacial.
Esser afirmou à Folha que espera receber o atrasado em "algumas semanas". Disse compreender que os problemas financeiros e políticos que o país vem atravessando em 1999 retardam o cumprimento de suas obrigações.
Devido ao que ele considera ser um "firme comprometimento" das autoridades brasileiras, Esser acha que o projeto com o país prosseguirá sem percalços.
O Brasil é o único país em desenvolvimento entre os 16 construtores da ISS, que deverá estar totalmente concluída em 2004.
O custo total do projeto está orçado em US$ 60 bilhões. Estima-se que o Brasil vá gastar US$ 150 milhões para fornecer os seis equipamentos que lhe cabem.
Em troca, o país terá espaço na ISS para realizar suas experiências científicas, observar o território nacional e enviar astronautas.
A ISS será quatro vezes maior do que a Mir, russa, mais importante estação já colocada no espaço, que será desativada este ano.
Raymond Askew, conselheiro especial da Nasa (a agência espacial dos EUA), fez a síntese dos dois dias de debates no Rio.
Para ele, as conferências ali ouvidas mostraram o quanto o Brasil pode se beneficiar com suas atividades científicas espaciais.
Por exemplo, por meio da telemedicina e da pesquisa para a descoberta de novos medicamentos para o combate a doenças como dengue ou mal de Chagas.
Para que isso ocorra, alerta Askew, o governo brasileiro deve ser "consistente e constante" em seu compromisso com o programa espacial, a indústria precisa produzir mais "trabalhadores habilitados" e a sociedade tem de "acreditar que o investimento em espaço irá resultar em melhor padrão de vida" para todos.
O Brasil gasta cerca de US$ 100 milhões por ano em seu programa espacial, um dos mais antigos e respeitados entre os de países em desenvolvimento. A Índia despende em torno de US$ 300 milhões anuais em espaço.
Um dos exemplos citados no seminário da Brazsat como benéficos para o Brasil e que podem ser desenvolvidos no espaço foi o de desenvolvimento de cristais de proteína com fins farmacêuticos.
Lawrence DeLucas, diretor do Centro para Cristalografia Macromolecular, disse ter evidências, após ter realizado experimentos em 37 missões de ônibus espaciais, para dizer que as condições de microgravidade do espaço resultam em cristais de proteína maiores e melhor formados.
Segundo ele, os casos em que os cristais de proteína obtidos no espaço não foram superiores aos conseguidos em Terra nas mesmas condições foram aqueles em que os vôos foram muito curtos.
Com a ISS, as experiências com cristais de proteína podem ser feitas por tempo indeterminado.
Um dirigente da empresa canadense MacDonald Dettwiler, David Whitton, anunciou que está procurando um parceiro no Brasil para investir em espaço.
O próximo grande acontecimento do programa espacial brasileiro é o lançamento, em 15 de outubro, do centro de Taiyuan, em Shanxi, na China, do satélite CBERS-1, que Brasil e China desenvolveram com objetivos de sensoriamento remoto.


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