São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Bush, agora, promete liderança no clima

Secretária de Estado diz em encontro em Washington que EUA apóiam negociação do pós-Kyoto na ONU, mas não convence

Condoleezza Rice afirma que sacrificar o planeta é "inaceitável", mas insiste em metas nacionais voluntárias de redução de gases-estufa

Kevin Lamarque/Reuters
Manifestante exibe cartaz com dizeres "Bush: caminho errado no aquecimento global", em protesto ontem em Washington


DA REDAÇÃO

Na declaração mais forte já dada pelo governo Bush sobre o aquecimento global, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse que seu país está preparado para expandir sua liderança na questão, e que sacrificar a saúde do planeta para prosseguir na trilha atual de crescimento baseado em combustíveis fósseis é "uma escolha inaceitável".
"É preciso cortar o nó górdio dos combustíveis fósseis, das emissões de carbono e da atividade econômica. O sistema atual não é mais sustentável."
O discurso de Rice foi proferido na manhã de ontem, na abertura da reunião convocada pela Casa Branca entre os 16 maiores países poluidores (inclusive o Brasil). Ele contrasta com as palavras de Bush em 2001, ao rejeitar o Protocolo de Kyoto alegando que não ratificaria um tratado que prejudicasse "e economia e os empregos dos americanos".
A chefe da diplomacia americana insistiu que o governo Bush quer que a conferência da Convenção do Clima das Nações Unidas que acontece em dezembro na Indonésia para tentar negociar um substituto de Kyoto tenha sucesso.
Mas não convenceu alguns dos participantes da reunião de Washington. Os críticos temem que o encontro seja uma tentativa de ganhar apoio para a tese de Washington de que o futuro acordo de combate ao aquecimento da Terra seja baseado em medidas voluntárias, em vez das metas obrigatórias impostas por Kyoto.
"Nós apreciamos os sentimentos expressos pela secretária Rice, mas o diabo sempre está nos detalhes", disse o ministro do Meio Ambiente da África do Sul, Marthinus van Shalkwyk. "Há ainda uma diferença crucial entre a abordagem dos EUA e a abordagem do resto do mundo."
A proposta americana é de estabelecer "metas nacionais de meio-termo e programas para alcançar o objetivo comum mais amplo" de reduzir emissões de gases-estufa. Segundo a secretária, "cada país tomará as próprias decisões, refletindo as próprias necessidades".
Traduzido da linguagem diplomática, o palavreado significa que as reduções devem ser "à la carte". Sob esse aspecto, apesar da retórica, não há nenhuma mudança na posição histórica dos EUA: como signatário da Convenção do Clima, o país nunca deixou de reconhecer que é necessário reduzir emissões. O problema sempre foi como fazê-lo. Os EUA defendem investimento em novas tecnologias -uma vantagem comparativa do país-, enquanto Kyoto propõe usar tecnologias limpas já existentes.
Além disso, os EUA não colocaram na mesa uma proposta para definir o tal o objetivo de reduções de longo prazo. "É difícil organizar uma reunião para pedir aos outros que façam uma proposta e não fazer uma você mesmo", alfinetou o secretário-executivo da Convenção do Clima, Yvo de Boer.


Com agências internacionais e "Financial Times"


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