São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Satélite brasileiro vai monitorar áreas de países africanos

Quatro estações localizadas a norte, sul, leste e oeste da África serão capazes de acompanhar 90% do continente

Projeto do Inpe visa fornecer dados para outras nações em desenvolvimento nas regiões mais ameaçadas pelo aquecimento global

GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Unidos em torno do CBERS-2B, satélite de observação da Terra, o Brasil e a China lançam hoje as bases de uma espécie de ofensiva geopolítica que visa fornecer, de graça, imagens obtidas por câmeras orbitais para países em desenvolvimento.
O anúncio do projeto será feito na Cidade do Cabo, África do Sul, durante o encontro anual do GEO (Grupo de Observações da Terra, na sigla em inglês). O país será o primeiro, depois de China e Brasil, a receber as informações do satélite. A partir de janeiro, quatro estações localizadas a norte, sul, leste e oeste da África terão capacidade de monitorar 90% do continente.
O programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) é hoje fundamental para o Brasil acompanhar o desmatamento amazônico e para a China fazer seu planejamento territorial. Em sua órbita ao redor da Terra, no entanto, o satélite faz imagens de vários outros países, mas até então elas eram processadas somente em três postos na China e em um no Brasil, em Cuiabá.
Como as informações sobre todo o resto do mundo já estavam sendo produzidas, a idéia foi criar estações para recebê-las em outros seis locais, de modo que outros países também pudessem monitorar a ocorrência de desastres naturais, desmatamento e secas.
Além das quatro estações africanas, devem entrar em funcionamento ao longo do ano que vem outros dois postos de análise de imagens: em Boa Vista (RR), para captar dados do Caribe, e provavelmente na Austrália, para monitorar o Sudeste Asiático.

Nova geopolítica
Além de disseminar por esses países a tecnologia nacional de sensoriamento remoto, o objetivo a longo prazo, segundo Gilberto Câmara, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é cobrir toda a região tropical do planeta.
"Estamos visando os países em desenvolvimento que mais devem ser afetados pelo aquecimento global. É um satélite desenvolvido por países em desenvolvimento para países em desenvolvimento."
Câmara define essa articulação do programa espacial brasileiro como uma resposta a "nova geografia mundial" que está se configurando com base nas mudanças climáticas e nas questões econômicas. "O Brasil quer se reposicionar no plano internacional como um provedor de informações", disse.
Com isso, o Brasil abre espaço para os planos ainda mais abrangentes do Inpe de criar um centro internacional de monitoramento das florestas tropicais de todo o mundo.
Segundo o diretor do instituto, o custo para colocar as estações ao redor da África em funcionamento deverá ser algo em torno de R$ 500 mil, retirados do orçamento do Inpe.
Inicialmente foi previsto um gasto de R$ 10 milhões por ano, mas o valor caiu porque estão sendo aproveitadas estações que já eram usadas com o satélite norte-americano Landsat 5, em vias de ser desativado. "Essa verba vai apenas para instalação do sistema de recepção, o software de processamento e a manutenção dos aparelhos", explica Câmara.
O CBERS-2B é o terceiro satélite a entrar em órbita desde que China e Brasil fecharam o acordo de cooperação, em 1998. O primeiro deixou de funcionar em 2003 e o segundo, ainda ativo, perdeu duas câmeras. O terceiro da família entrou em órbita em setembro deste ano e está previsto para funcionar até 2009, quando um satélite mais moderno, o CBERS-3, deve ser posto em órbita.


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