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Satélite brasileiro vai monitorar áreas de países africanos
Quatro estações localizadas a norte, sul, leste e oeste da África serão capazes de acompanhar 90% do continente
Projeto do Inpe visa fornecer dados para outras nações em desenvolvimento nas regiões mais ameaçadas pelo aquecimento global
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Unidos em torno do CBERS-2B, satélite de observação da
Terra, o Brasil e a China lançam
hoje as bases de uma espécie de
ofensiva geopolítica que visa
fornecer, de graça, imagens obtidas por câmeras orbitais para
países em desenvolvimento.
O anúncio do projeto será
feito na Cidade do Cabo, África
do Sul, durante o encontro
anual do GEO (Grupo de Observações da Terra, na sigla em
inglês). O país será o primeiro,
depois de China e Brasil, a receber as informações do satélite.
A partir de janeiro, quatro estações localizadas a norte, sul,
leste e oeste da África terão capacidade de monitorar 90% do
continente.
O programa CBERS (Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres) é hoje fundamental
para o Brasil acompanhar o
desmatamento amazônico e
para a China fazer seu planejamento territorial. Em sua órbita ao redor da Terra, no entanto, o satélite faz imagens de vários outros países, mas até então elas eram processadas somente em três postos na China
e em um no Brasil, em Cuiabá.
Como as informações sobre
todo o resto do mundo já estavam sendo produzidas, a idéia
foi criar estações para recebê-las em outros seis locais, de modo que outros países também
pudessem monitorar a ocorrência de desastres naturais,
desmatamento e secas.
Além das quatro estações
africanas, devem entrar em
funcionamento ao longo do ano
que vem outros dois postos de
análise de imagens: em Boa
Vista (RR), para captar dados
do Caribe, e provavelmente na
Austrália, para monitorar o Sudeste Asiático.
Nova geopolítica
Além de disseminar por esses
países a tecnologia nacional de
sensoriamento remoto, o objetivo a longo prazo, segundo Gilberto Câmara, diretor do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é cobrir toda a
região tropical do planeta.
"Estamos visando os países
em desenvolvimento que mais
devem ser afetados pelo aquecimento global. É um satélite
desenvolvido por países em desenvolvimento para países em
desenvolvimento."
Câmara define essa articulação do programa espacial brasileiro como uma resposta a "nova geografia mundial" que está
se configurando com base nas
mudanças climáticas e nas
questões econômicas. "O Brasil
quer se reposicionar no plano
internacional como um provedor de informações", disse.
Com isso, o Brasil abre espaço para os planos ainda mais
abrangentes do Inpe de criar
um centro internacional de
monitoramento das florestas
tropicais de todo o mundo.
Segundo o diretor do instituto, o custo para colocar as estações ao redor da África em funcionamento deverá ser algo em
torno de R$ 500 mil, retirados
do orçamento do Inpe.
Inicialmente foi previsto um
gasto de R$ 10 milhões por ano,
mas o valor caiu porque estão
sendo aproveitadas estações
que já eram usadas com o satélite norte-americano Landsat
5, em vias de ser desativado.
"Essa verba vai apenas para
instalação do sistema de recepção, o software de processamento e a manutenção dos aparelhos", explica Câmara.
O CBERS-2B é o terceiro satélite a entrar em órbita desde
que China e Brasil fecharam o
acordo de cooperação, em 1998.
O primeiro deixou de funcionar
em 2003 e o segundo, ainda ativo, perdeu duas câmeras. O terceiro da família entrou em órbita em setembro deste ano e
está previsto para funcionar até
2009, quando um satélite mais
moderno, o CBERS-3, deve ser
posto em órbita.
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