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Teste genético identifica melhor uva para vinhos
Genoma da planta rende primeiras ferramentas
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas dos EUA e da Itália identificaram os "genes do
amadurecimento" em uvas e
criaram um novo método para
selecionar frutos. Não só os genes, mas os principais processos bioquímicos envolvidos na
maturação, foram decifrados.
Isso permitirá que em breve seja possível detectar com mais
precisão qual uva, ou qual cultivar, produzirá bons vinhos. Em
dois novos estudos na revista
"BMC Genomics", os cientistas
mostram ferramentas derivadas do genoma da uva (Vitis vinifera), divulgado em agosto.
"O amadurecimento da uva
implica em muitos processos
biológicos e moleculares. Até
agora, é monitorado por meio
de métodos triviais que calculam o teor de açúcar, de acidez,
que permitem estimar o estado
de amadurecimento", disse à
Folha o líder do estudo americano, Laurent Deluc, da Universidade de Nevada, em Reno.
Segundo ele, essas técnicas
não permitem saber com precisão se o amadurecimento chegou ao auge. Seria preciso ter
outros "indicadores" e a expressão (ativação) dos genes
pode cumprir esse papel. "Se
existir um gene cuja expressão
seja muito alta na época da colheita, você pode usá-lo como
um bom marcador", diz. A tecnologia de chips de DNA permite saber ao mesmo tempo
como se ativam 16 mil genes.
A equipe americana pesquisou sete estágios do desenvolvimento de uvas Cabernet Sauvignon. "A análise identificou
um conjunto de genes desconhecidos potencialmente envolvidos em estágios críticos
associados ao desenvolvimento
da fruta que podem agora ser
sujeitados a testes", escreveram os cientistas. Além de descobrir detalhes do funcionamento de genes fundamentais,
ligados à fotossíntese ou à resistência a doenças, eles puderam ver outros relacionados à
produção de compostos aromáticos e à regulação dos flavonóides, substâncias essenciais
para o sabor dos vinhos.
"Os flavonóides são críticos
para a estabilidade do vinho
através do tempo", diz Deluc.
Saber quais genes são importantes para o acúmulo desses
compostos pode permitir aos
pesquisadores "gerenciar melhor" a uva, ou até criar variedades transgênicas, diz Deluc.
Os estudo italiano, que usou
uvas Pinot Noir, achou cerca de
1.400 genes específicos do
amadurecimento e viu como
sua expressão flutuava de modo semelhante durante o processo em três estações de colheita. Foi possível ver que um
grupo menor de genes foi fortemente influenciado por condições climáticas, provando que a
boa safra requer uma combinação de uva, solo e clima.
"A produção de vinho ainda
pode ser considerada uma arte,
mas uma alta qualidade da uva
é sempre um pré-requisito para
fazer vinhos de alta qualidade."
diz Stefania Pilati, uma das autoras do estudo italiano. Deluc
vai além. "A produção de vinho
deixou de ser uma arte, está se
tornando uma ciência com um
propósito econômico real."
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