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Genoma é tema de nova megaexposição
Mostra será aberta hoje em São Paulo e vai percorrer mais dez cidades; organização espera 500 mil pessoas na capital paulista
Nos EUA, exposição atraiu 800 mil visitantes; texto que criticava transgênicos foi modificado a pedido de pesquisadores brasileiros
Marcela Fae/Folha Imagem
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Modelo gigante da molécula de DNA em exibição no Ibirapuera |
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Começa hoje no Parque Ibirapuera uma exposição que
merece bater recordes de público: "Revolução Genômica".
São 2.000 m2 sobre biologia
molecular, a ciência da hora.
Com o selo de qualidade do
Museu Americano de História
Natural e alguma "cor local".
A versão americana da exposição foi vista por 800 mil pessoas. A brasileira, montada pelo Instituto Sangari, conta com
mais de 500 mil só em São Paulo. A mostra de R$ 4,5 milhões
deve ir depois para outras dez
cidades brasileiras.
Aparece logo na entrada a
cor local mencionada por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,
co-patrocinadora da mostra): a
biodiversidade brasileira. Plantas tropicais e vídeos de animais, até bichos vivos -sagüis,
filhote de jacaré, tartarugas, tucano. Diversão garantida.
Não se trata só de cenografia
para entreter e impressionar,
mas de fixar a noção de que todo ser vivo tem DNA. A mesma
matéria-prima para transmitir
as características de cada espécie, entre milhões, de uma geração a outra. Não há melhor
prova de que todos descendemos do mesmo ancestral, como
ensinou Charles Darwin (1809-1882). Esse é o núcleo do
"Grande Salão do DNA", primeira "célula" da mostra.
Depois vem "A Era do Genoma", a exposição americana
propriamente dita. São muitas
atrações, como várias pilhas de
listas telefônicas em espiral para mostrar quantas "letras"
químicas há em cada genoma
humano (6 bilhões), de quatro
tipos: adenina (A), timina (T),
citosina (C) e guanina (G).
Por fim chega-se à terceira
célula, "Genética de Alimentos", outro acréscimo brasileiro. Brito Cruz se disse "muito
satisfeito" pela possibilidade
de agregar esse conteúdo relacionado com desafios da ciência brasileira, como a aplicação
da genômica na cultura da cana
e da soja, ou a proteção de florestas e do ambiente.
Antitransgênicos
Parte da cor local, no entanto, não está visível. Dois especialistas indicados pela Fapesp,
Hernan Chaimovich e Walter
Colli, não ficaram satisfeitos
com o texto original da exposição americana sobre organismos transgênicos, tido como
muito crítico à biotecnologia.
Os dizeres, segundo a co-curadora Eliana Maria Beluzzo
Dessen, terminaram modificados de modo a ficarem mais
neutros. Como a mostra original fora montada em 2001, havia por exemplo uma menção
considerada ultrapassada à
morte de borboletas-monarcas
após ingerirem pólen de milho
geneticamente modificado.
DNA de esquerda
Há outros pequenos problemas, como a reiteração de metáforas também ultrapassadas
do determinismo genético, como genes "controladores" e
portadores de "instruções".
O painel "A Estrutura do
DNA" diz que as imagens de
Rosalind Franklin usadas por
James Watson e Francis Crick
para decifrar em 1953 a estrutura do DNA haviam sido obtidas no mesmo laboratório de
Cambridge em que trabalhavam. Errado: Franklin atuava
em Londres, no King's College.
Também equivocado é o lado
(esquerdo) para o qual se torce
a hélice da ilustração do DNA
na página da mostra (www.revolucaogenomica.com.br).
São detalhes. Como disse
Brito Cruz, o importante não é
tanto o que a mostra ensina de
conteúdo, mas que muitas pessoas saiam dela com "perguntas mais inteligentes do que tinham antes".
SERVIÇO - Até 13 de julho no Pavilhão Armando de Arruda Pereira
(portão 10 do Ibirapuera). Terça a
sexta das 9h às 19h; sábados, domingos e feriados das 10h às 19h.
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