São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Genoma é tema de nova megaexposição

Mostra será aberta hoje em São Paulo e vai percorrer mais dez cidades; organização espera 500 mil pessoas na capital paulista

Nos EUA, exposição atraiu 800 mil visitantes; texto que criticava transgênicos foi modificado a pedido de pesquisadores brasileiros

Marcela Fae/Folha Imagem
Modelo gigante da molécula de DNA em exibição no Ibirapuera


MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

Começa hoje no Parque Ibirapuera uma exposição que merece bater recordes de público: "Revolução Genômica". São 2.000 m2 sobre biologia molecular, a ciência da hora. Com o selo de qualidade do Museu Americano de História Natural e alguma "cor local".
A versão americana da exposição foi vista por 800 mil pessoas. A brasileira, montada pelo Instituto Sangari, conta com mais de 500 mil só em São Paulo. A mostra de R$ 4,5 milhões deve ir depois para outras dez cidades brasileiras.
Aparece logo na entrada a cor local mencionada por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, co-patrocinadora da mostra): a biodiversidade brasileira. Plantas tropicais e vídeos de animais, até bichos vivos -sagüis, filhote de jacaré, tartarugas, tucano. Diversão garantida.
Não se trata só de cenografia para entreter e impressionar, mas de fixar a noção de que todo ser vivo tem DNA. A mesma matéria-prima para transmitir as características de cada espécie, entre milhões, de uma geração a outra. Não há melhor prova de que todos descendemos do mesmo ancestral, como ensinou Charles Darwin (1809-1882). Esse é o núcleo do "Grande Salão do DNA", primeira "célula" da mostra.
Depois vem "A Era do Genoma", a exposição americana propriamente dita. São muitas atrações, como várias pilhas de listas telefônicas em espiral para mostrar quantas "letras" químicas há em cada genoma humano (6 bilhões), de quatro tipos: adenina (A), timina (T), citosina (C) e guanina (G).
Por fim chega-se à terceira célula, "Genética de Alimentos", outro acréscimo brasileiro. Brito Cruz se disse "muito satisfeito" pela possibilidade de agregar esse conteúdo relacionado com desafios da ciência brasileira, como a aplicação da genômica na cultura da cana e da soja, ou a proteção de florestas e do ambiente.

Antitransgênicos
Parte da cor local, no entanto, não está visível. Dois especialistas indicados pela Fapesp, Hernan Chaimovich e Walter Colli, não ficaram satisfeitos com o texto original da exposição americana sobre organismos transgênicos, tido como muito crítico à biotecnologia.
Os dizeres, segundo a co-curadora Eliana Maria Beluzzo Dessen, terminaram modificados de modo a ficarem mais neutros. Como a mostra original fora montada em 2001, havia por exemplo uma menção considerada ultrapassada à morte de borboletas-monarcas após ingerirem pólen de milho geneticamente modificado.

DNA de esquerda
Há outros pequenos problemas, como a reiteração de metáforas também ultrapassadas do determinismo genético, como genes "controladores" e portadores de "instruções".
O painel "A Estrutura do DNA" diz que as imagens de Rosalind Franklin usadas por James Watson e Francis Crick para decifrar em 1953 a estrutura do DNA haviam sido obtidas no mesmo laboratório de Cambridge em que trabalhavam. Errado: Franklin atuava em Londres, no King's College.
Também equivocado é o lado (esquerdo) para o qual se torce a hélice da ilustração do DNA na página da mostra (www.revolucaogenomica.com.br).
São detalhes. Como disse Brito Cruz, o importante não é tanto o que a mostra ensina de conteúdo, mas que muitas pessoas saiam dela com "perguntas mais inteligentes do que tinham antes".


SERVIÇO - Até 13 de julho no Pavilhão Armando de Arruda Pereira (portão 10 do Ibirapuera). Terça a sexta das 9h às 19h; sábados, domingos e feriados das 10h às 19h.


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