São Paulo, domingo, 29 de maio de 2005 |
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Micro/Macro Células-tronco e a medicina do futuro
MARCELO GLEISER
As células-tronco são extraídas de embriões humanos com aproximadamente cem células. O interesse nelas vem de sua capacidade de gerar células de praticamente todos os órgãos e tecidos do organismo humano. O potencial de terapias usando células-tronco é enorme, definindo toda uma nova área da medicina, o que poderia tratar doenças que causam a degeneração de tecidos com a reposição de células saudáveis. Doença de Parkinson, diabetes e distrofia muscular são algumas das várias moléstias, a afligir centenas de milhões de pessoas no mundo, que podem vir a ser tratadas. A oposição afirma que retirar as células-tronco dos embriões equivale a assassiná-los, que a ciência não deve destruir vidas. Essa retórica é típica de uma ideologia religiosa radical. Na prática, a situação é muito diferente. A proposta dos cientistas é utilizar os embriões descartados pelas clínicas de fertilização artificial. Caso não fossem utilizados, seriam congelados indefinidamente ou simplesmente destruídos. Portanto, o que se propõe é justamente o uso dos embriões para salvar vidas, evitando assim que sejam destruídos inutilmente. Seguindo a posição de Bush, clínicas de fertilidade deveriam ser também proibidas, já que inúmeros óvulos são inseminados e embriões gerados para que apenas um ou dois venham a formar um feto. Enquanto isso, cientistas coreanos anunciaram na semana passada que conseguiram desenvolver células-tronco a partir de amostras vindas de doentes com uma eficiência que só se acreditava possível daqui a décadas. As células-tronco são obtidas de embriões clonados das células dos pacientes, usando técnica semelhante à clonagem de animais. O objetivo não é copiar humanos, mas retirar as células-tronco dos embriões para tratar os pacientes. O papel da ciência é aliviar o sofrimento material do homem. É inútil tentar bloquear o seu progresso com uma ideologia religiosa retrógrada. O que não for feito nos EUA ou no Brasil será feito em outro lugar. Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu" Texto Anterior: Cético de plantão Próximo Texto: Ciência em Dia: Confiança e controle Índice |
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