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Aquecimento solapa base da vida marinha
Pesquisa detecta queda de 40% nos últimos 60 anos no fitoplâncton, que produz metade do oxigênio da Terra
Algas microscópicas
provavelmente somem
por causa de águas mais
quentes, resultado das
mudanças climáticas
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Os oceanos estão menos
"verdes" -e isso é uma péssima notícia. Faz um século
que a quantidade de algas
microscópicas, o chamado fitoplâncton, tem caído cerca
de 1% ao ano.
A conclusão veio da análise de exatas 445.237 medições, feitas entre 1899 e 2008
em mares de todo o planeta.
O que os cientistas mediram
é a presença do pigmento
clorofila, que dá cor verde às
microalgas -ou às folhas das
árvores em terra firme.
O fitoplâncton é a base da
cadeia alimentar marinha,
servindo de comida para animais microscópicos, o zooplâncton, por sua vez devorado por animais maiores.
Os microrganismos "vegetais" constituem perto de metade da matéria orgânica do
planeta e produzem 50% do
oxigênio da Terra.
A diminuição estaria ligada ao aquecimento do planeta e ao aumento da temperatura dos oceanos, dizem os
autores do estudo, liderado
por Daniel Boyce, da Universidade Dalhousie, em Halifax (Canadá), A pesquisa está
na edição de hoje da revista
científica "Nature".
Um dos mais simples e
mais antigos instrumentos
oceanográficos está na origem de boa parte das medições. Trata-se do disco de
Secchi, usado para medir a
transparência da água.
É um simples disco branco
de 20 cm de diâmetro, afundado até que não esteja mais
visível. A profundidade medida dá indicação da clareza
da água e serve para avaliar a
abundância do fitoplâncton.
CIÊNCIA VATICANA
"O disco de Secchi é um
excelente instrumento. Sua
calibração não mudou em
cem anos. Seu nome vem do
padre Pietro Secchi, consultor científico da Marinha papal que o criou em 1865", disse à Folha outro dos pesquisadores, Marlon Lewis, também de Dalhousie.
Segundo os autores, as observações com o disco são
comparáveis às medições diretas da clorofila, e mesmo às
imagens feitas por satélite.
O declínio das microalgas
tem sido mais forte nas regiões mais quentes, próximas ao Equador, e tem se intensificado nos últimos anos.
O declínio foi de 40% desde
1950. Apesar de cair 1% ao
ano nos últimos cem anos, a
quantidade total do plâncton
está longe de chegar a zero
porque o 1% é calculado em
cima do que sobra todo ano
-mais ou menos como os juros compostos no banco.
"Tudo isso vai ter efeitos
negativos nos estoques de
peixe e na pesca. Não está
claro que efeito poderá ter
nos níveis de oxigênio. Pode
ser pequeno, ninguém sabe", diz David Siegel, da Universidade da Califórnia em
Santa Bárbara. Ele é coautor
de um comentário sobre a
pesquisa publicado na mesma edição da "Nature".
Para Boris Worm, também
da universidade canadense,
"um oceano com menos fitoplâncton vai funcionar de
maneira diferente".
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