São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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GENÉTICA

Ian Wilmut solicitou autorização para produzir clone terapêutico; objetivo é estudar doença do neurônio motor

Criador de Dolly pede para clonar embrião

DA ASSOCIATED PRESS

O criador da ovelha Dolly, o primeiro clone de animal adulto, pediu ontem uma licença para estudar como as células nervosas enlouquecem e causam a doença do neurônio motor -enfermidade degenerativa incurável, cujo paciente mais ilustre é o físico britânico Stephen Hawking.
Ian Wilmut, que chefiou o grupo de cientistas que criou Dolly no Instituto Roslin, Escócia, em 1996, disse planejar clonar embriões usando células adultas de pacientes portadores daquela doença, que causa degeneração dos músculos. Ele quer obter células-tronco, induzi-las a se diferenciar em neurônios e, depois, comparar seu desenvolvimento com o de células derivadas de embriões saudáveis.
Esse tipo de estudo, conhecido como clonagem terapêutica, enfrenta oposição de grupos antiaborto, porque envolve a criação de embriões para sua posterior destruição -é necessário que o embrião seja destruído para a obtenção das células-tronco.
"Acreditamos que isso produzirá oportunidades inteiramente novas para o estudo da doença do neurônio motor", disse Wilmut ontem, durante uma entrevista.
Se o pedido for aprovado pela Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia, órgão que regulamenta esse tipo de pesquisa no Reino Unido, será a segunda licença do gênero concedida no país. A primeira foi dada, no mês passado, à Universidade de Newcastle, para a clonagem de embriões humanos com o objetivo de desenvolver terapias para diabetes e mal de Parkinson.
Os embriões produzidos por meio da transferência nuclear -técnica que o próprio Wilmut usou no caso da Dolly- poderão se desenvolver até o sexto dia, quando atingem o estado conhecido como blastocisto. É nessa fase que as células-tronco embrionárias são extraídas. A lei britânica permite que isso aconteça desde 2001, mas proíbe que embriões clonados se desenvolvam além desse estágio e sejam implantados para reprodução.
Wilmut não quer desenvolver implantes de células-tronco para recuperar os doentes. O objetivo da pesquisa é entender o mecanismo genético e celular por trás da moléstia -o que é difícil, porque os nervos são inacessíveis no cérebro dos pacientes.
"Hoje, tudo o que nós temos é tecido de pacientes mortos. Precisamos de formas de estudar os neurônios motores [aqueles que carregam informação do cérebro para os músculos] durante o progresso da doença", disse Brian Dickie, da Associação Britânica da Doença do Neurônio Motor.
A enfermidade é, na verdade, um conjunto de doenças de gravidade variada que levam a perda da função muscular. Cerca de 350 mil pessoas são afetadas todo ano, e cem mil morrem- a maioria nos primeiros cinco anos após o início dos sintomas. Dez por cento delas, como Hawking, sobrevivem por uma década ou mais.


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