São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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OS MITOS DA CRIAÇÃO

A EVOLUÇÃO É UMA TEORIA, NÃO UM FATO
O jogo de palavras pode confundir a princípio. Mas todas as idéias científicas são "teorias": a relatividade, o quantum, o Big Bang. O darwinismo, em sua forma atual (após a síntese evolucionista da década de 1940) tem passado em sucessivos testes. Os projetos genoma têm mostrado mais semelhanças no seu DNA à medida que os organismos compartilham um ancestral comum mais recente. Humanos e camundongos, ambos mamíferos, têm muito mais genes em comum que humanos e vermes, por exemplo.

AS EVIDÊNCIAS FÓSSEIS NÃO APÓIAM A EVOLUÇÃO
O registro fóssil é por definição incompleto. A fossilização é um evento raro e depende de uma série de fatores. Apesar disso, o registro tem várias séries de fósseis que mostram claramente a evolução. Para citar apenas dois exemplos, a transição dos pelicossauros (répteis do Período Permiano) para os terápsidos, cinodontes e mamíferos está mais do que documentada, assim como a evolução dos cavalos modernos a partir de um ancestral do tamanho de um gato, o Hyracotherium.

ACEITAR DARWIN SIGNIFICA NEGAR A RELIGIÃO
Apesar de ter banido as explicações sobrenaturais do mundo biológico, a teoria de Darwin não está obrigatoriamente associada com o ateísmo. O biólogo russo Theodosius Dobzhansky, o maior evolucionista do século 20, era cristão praticante. O americano Francis Collins, coordenador do Projeto Genoma Humano, também é religioso, e diz que a batalha entre evolução e criacionismo é "desnecessária".

OS PRÓPRIOS DARWINISTAS DUVIDAM CADA VEZ MAIS DA EVOLUÇÃO
Segundo John Rennie, editor-chefe da revista "Scientific American", nenhuma evidência sugere que o darwinismo esteja perdendo pesquisadores. Não há publicação científica que conteste a evolução. Nos anos 1990, um cientista da Universidade de Washington pesquisou milhares de artigos em revistas científicas em busca de publicações sobre design inteligente ou "ciência da criação". Não achou nenhum. Uma busca feita no início desta década pelos americanos Barbara Forrest (da Universidade da Louisiana) e Lawrence Krauss (da Case Western Reserve) deu o mesmo resultado.

É MATEMATICAMENTE IMPROVÁVEL QUE ESTRUTURAS ALTAMENTE ESPECÍFICAS COMO UMA PROTEÍNA OU UMA CÉLULA APAREÇAM POR ACASO
Dizer que a evolução acontece "por acaso" é uma das leituras erradas mais comuns do darwinismo. A evolução pela seleção natural é um duplo mecanismo: ela só pode funcionar com a geração casual de variações entre os indivíduos e a eliminação nada casual de variações indesejáveis. A seleção natural pode, sim, empurrar a evolução e produzir estruturas "sofisticadas" em pouco tempo. O acaso tem um papel no "pontualismo" -eventos externos, como a queda de um asteróide, que alteram o curso da evolução.

MUTAÇÕES NÃO PRODUZEM NOVOS TRAÇOS E A BIOLOGIA MOLECULAR NÃO APÓIA A EVOLUÇÃO
Muito ao contrário. A biologia molecular confirmou que todos os seres vivos compartilham um só código genético e explicou como a variação pode surgir. Os biólogos moleculares também catalogaram diversas mutações pontuais, nas quais uma única "letra" é trocada na seqüência do DNA, capazes de produzir efeitos complexos. No grupo de genes conhecido como homeobox, essas mutações podem alterar o número de patas de um animal. "Uma única mutação, a bithorax, dá um novo par de asas a uma mosca", diz Paolo Zanotto, da USP.


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