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ARQUEOLOGIA
Achado em MT pode recuar data de chegada do homem à América
Abrigo revela ossos de 25 mil anos
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Datações preliminares que acabam de ser realizadas em ornamentos feitos de ossos de um animal pré-histórico encontrados
num abrigo em Mato Grosso podem ajudar a estabelecer, de maneira irrefutável, que os primeiros
seres humanos chegaram à América há mais de 25 mil anos.
Essa data é duas vezes mais antiga do que a aceita atualmente -
os mais remotos indícios bem
comprovados da presença humana em terras americanas estão no
sítio arqueológico de Monte Verde, sul no Chile, e têm 12.500 anos.
Sítios arqueológicos muito antigos no continente americano
-onde, até uma década atrás,
acreditava-se que o homem tivesse chegado havia 12 mil anos, não
mais- são sempre recebidos
com desconfiança pelos arqueólogos, ainda mais quando se trata
de descobertas na América do Sul.
A polêmica mais famosa é a da
fogueira de 48 mil anos descoberta pela arqueóloga Niède Guidon
no Boqueirão da Pedra Furada,
no Piauí. Os críticos de Guidon,
cuja descoberta poderia virar do
avesso a história da ocupação do
continente, dizem que o carvão
datado pela pesquisadora foi resultado de combustão espontânea, não de uma fogueira feita por
homens pré-históricos.
O arqueólogo americano Tom
Dillehay, da Universidade do
Kentucky, que escavou Monte
Verde e derrubou o mito da ocupação recente, também descobriu
ali artefatos de 33 mil anos que parecem ter sido produzidos por seres humanos. As datas, no entanto, foram descartadas pelo próprio Dillehay, que viu problemas
em explicar ocupação tão antiga.
Prova e contraprova
Os pingentes de osso achados
no sítio de Santa Elina, em Mato
Grosso, prometem alterar esse
julgamento. Eles foram datados
por três técnicas distintas e, nos
três casos, demonstram ter em
torno de 25 mil anos.
Também foram datados restos
de carvão e de argila na mesma
camada de solo em que estavam
os artefatos: todos eles possuem a
mesma idade.
"A nossa descoberta é mais difícil de refutar porque se baseia em
três métodos diferentes e as marcas nos utensílios e adornos deixam claro que foram trabalhadas
pela mão humana", diz a arqueóloga Águeda Vilhena Vialou, da
Universidade de São Paulo. Ela
coordena a pesquisa, juntamente
com seu marido, o francês Denis
Vialou, Museu Nacional de História Natural, em Paris.
O casal trabalha naquela região
há cerca de 20 anos. Lá, em 1999,
eles desenterraram dois ossos da
coluna vertebral de uma preguiça-gigante, espécie extinta no
continente, dos quais teriam sido
feitos as peças datadas agora.
Esses ossos, chamados osteodermes, têm cerca de 1 cm de
comprimento e se espalhavam
aos milhares sob a pele do animal.
Os Vialou contam que eles foram
trabalhados para se parecer com
contas de colar, mas ainda não há
certeza sobre a forma exata dos
enfeites devido aos desgastes provocados pelo tempo.
No sítio também há uma quantidade razoável de artefatos de pedra. A arqueóloga brasileira afirma que o grupo está em busca de
mais restos da preguiça-gigante,
que confirmem que o animal foi
abatido por seres humanos.
Ela afirma ainda que os resultados da pesquisa deverão ser publicados em alguns meses, numa
grande revista científica. "Estamos, neste momento, preparando nossa argumentação, pois
sempre haverá críticas, a maioria
de gente provavelmente desconhecedora da região e da cultura
material dos povos que a habitaram no passado".
(FD e ACM)
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