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ZOOLOGIA
Tentilhões pesquisados pelo pai da seleção natural se modificaram em apenas 30 anos, relatam cientistas dos EUA
Estudo flagra evolução em ave de Darwin
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo de trinta anos de alguns dos pássaros mais famosos
da biologia revelou que a evolução é algo imprevisível. A pesquisa, feito com os clássicos tentilhões de Darwin das ilhas Galápagos, pôde flagrar a seleção natural agindo em duas espécies de ave.
O naturalista britânico Charles
Darwin (1809-1882) desenvolveu
uma teoria da evolução biológica
cujo "motor" é o fenômeno chamado "seleção natural" -isto é, o
processo pelo qual os organismos
mais adaptados ao seu ambiente
tendem a sobreviver e deixar descendentes, transmitindo as suas
características genéticas.
Darwin, na sua viagem de circunavegação a bordo do veleiro
HMS Beagle, passou pelas ilhas
Galápagos, pertencentes ao Equador, durante seis semanas em
1835. Entre os animais que coletou e depois descreveu estavam os
tentilhões, que têm uma grande
variação em tamanho, forma do
bico e hábitos alimentares.
Entre esses pássaros existem os
que têm bicos que lembram alicates, capazes de esmagar as sementes mais duras. Outros comem insetos, outros são vegetarianos e
um deles, o "tentilhão vampiro",
dá bicadas para chupar o sangue
de aves marinhas.
O casal Peter Grant e Rosemary
Grant, da Universidade de Princeton, EUA, começou em 1973 a estudar a população de duas espécies de uma pequena ilha, a Daphne Maior. Eles contaram as populações e mediram certos traços do
tentilhão terrestre de bico médio
(Geospiza fortis) e do tentilhão
dos cactos (Geospiza scandens).
Os traços básicos eram tamanho
do corpo e tamanho e forma do
bico. Esses pássaros pesam, em
média, 20 gramas.
Eles notaram uma forte correlação dessas medidas com eventos
naturais pelos quais a ilha passou.
Ao fazer o estudo de longo prazo,
foi possível medir o impacto nos
tentilhões de momentos de seca
intensa ou de chuvas torrenciais
-como a provocada pelo fenômeno climático El Niño em 1983.
No caso do G. fortis, por exemplo, notou-se que o tamanho médio do bico aumentava nos anos
de seca, quando apenas sementes
maiores e duras estavam disponíveis. Em tempos mais úmidos, bicos menores eram mais comuns.
Desde o começo do estudo em
1973 até o ano passado, as médias
de tamanho do corpo e formato
do bico das duas espécies eram
"marcadamente diferentes", escreveram os autores em artigo na
última edição da revista "Science"
(www.sciencemag.org).
Houve uma diminuição, depois
um aumento abrupto, e depois
uma queda mais lenta das medidas de tamanho e bico do tentilhão terrestre de bico médio.
"Se nós tivéssemos parado a
amostragem depois de dez anos,
nossas conclusões seriam diferentes", dizem os dois. Naquele momento, a única diferença notável
seria o tamanho do bico da ave.
Ao persistir em pesquisar por
quase 30 anos, eles puderam testemunhar um evento de seleção
natural que afetava também a forma do bico no G. fortis.
As Galápagos são um "laboratório" ideal para pesquisar a evolução. Como estão distantes do continente, o isolamento permitiu a
evolução de espécies próprias.
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