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São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

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ESPAÇO

Grupo da UnB planeja lançar ao espaço em dois anos tecnologia que conduziu sonda da Nasa até asteróide e cometa

Brasil constrói motor de propulsão iônica

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores brasileiros estão construindo um motor para naves espaciais baseado em propulsão iônica, a tecnologia que pode ser a chave para garantir às futuras sondas a autonomia exigida para ir e vir pelo Sistema Solar sem precisar de ajuda alguma de outros corpos celestes.
O conceito parece até saído da ficção científica -o que não está muito longe da verdade. Para muitos, a primeira referência a uma nave movida por propulsão iônica veio da antiga série de televisão "Jornada nas Estrelas" (Star Trek). Foi essa uma das referências que os americanos usaram para divulgar o lançamento da sonda Deep Space-1, em 1998.
Com o objetivo de testar tecnologias inovadoras para futuro uso no programa espacial, a Deep Space-1 demonstrou a utilidade de propulsores iônicos na exploração do Sistema Solar. Ela chegou a visitar um asteróide e um cometa antes de ter sua missão encerrada, em dezembro de 2001.
O novo motor, desenvolvido na UnB (Universidade de Brasília) pelo físico Ivan Soares Ferreira (que agora está no Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e por seu orientador, José Leonardo Ferreira, funciona com o mesmo princípio usado na sonda americana. A partir de um gás nobre (que serve de combustível), é criado plasma -um estado da matéria em que os átomos estão separados em elétrons e núcleos atômicos (veja quadro à direita).
As partículas com carga positiva são então induzidas a saltar para fora do motor. Ao saírem, esses íons (nome dado às partículas carregadas eletricamente) empurram a nave na direção oposta.
O modelo de Brasília oferece algumas vantagens. "O modelo da Deep Space-1 é eletrostático, ele tem uma grade para atrair os íons que se desgasta e limita o tempo de vida do motor. Os nossos íons são impulsionados por um campo magnético, dispensando a grade", diz Ferreira. Além de mais duradouro, o motor brasileiro seria também mais barato.
A grande vantagem da propulsão iônica é a economia do combustível. Gasta-se muito pouco dele para dar impulso à nave. É bem verdade que o ritmo de aceleração é bem inferior ao oferecido por motores a combustão tradicionais, que queimam o combustível e ejetam o produto da reação para trás. Mas esses sistemas mais antigos esgotam rapidamente o combustível, impedindo manobras posteriores.
É por isso que as sondas já lançadas às profundezas do espaço dependem tanto de sobrevôos "de raspão" por alguns planetas, para que possam atingir o alvo final. Elas usam a força gravitacional do planeta para ganhar aceleração e corrigir o curso.
A sonda New Horizons, que deve decolar em 2006 para Plutão e tem propulsão tradicional, vai antes passar por Júpiter, do qual ganhará um bom empurrão.
Além de ser útil para as futuras missões de exploração de longa duração, a propulsão iônica também pode ser usada em aplicações comerciais, ampliando a vida útil de satélites, que precisam constantemente corrigir sua órbita. Já há vários deles em torno da Terra que controlam a própria altitude com motores iônicos.
O motor de Brasília, neste momento, é apenas um protótipo. Seus princípios de funcionamento foram verificados só no Laboratório de Plasmas da UnB. A equipe agora está requisitando verbas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do Fundo Setorial Espacial, com o objetivo de levar o projeto ao estágio de produção industrial.
A idéia é fazer um teste no espaço, com um satélite, em dois anos. Há uma indústria de São José dos Campos interessada na fabricação do motor. Empresas como a Boeing já vendem motores de propulsão iônica para satélites.


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