São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Noções de geometria podem ser "intuitivas"

Americanos e índios da Amazônia têm mesma predisposição à matemática, diz pesquisa

MARCO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pierre Pica/Divulgação
Índia da tribo mundurucu, no Pará, manuseia compasso durante a pesquisa, acompanhada pelos cientistas franceses

Dizer que você não nasceu para a matemática não é uma boa desculpa para evitar os números e também não tem base científica. Um novo estudo reforça a ideia de que todos temos predisposições universais para o raciocínio matemático e, em especial, para a geometria.
Na pesquisa intercultural publicada na revista científica "PNAS", os franceses Véronique Izard, Pierre Pica e colaboradores descobriram intuições aguçadas sobre geometria, não só em americanos e franceses como também em indígenas da tribo mundurucu, no Pará.
Participaram do estudo oito crianças e 22 adultos dessa tribo amazônica.
Os resultados dos índios foram similares aos dos demais estudados ""mesmo não tendo palavras em sua língua para indicar conceitos de paralelismo ou ângulo reto, nem instrução em geometria.
Em entrevista à Folha, Izard admite que se surpreendeu com a "consistência das intuições de geometria dos Mundurucu."

LIGANDO OS PONTOS
Visando investigar noções de paralelismo e da soma dos ângulos internos do triângulo, os pesquisadores usaram objetos reais, como uma prancheta e uma bola.
Depois eles contavam uma história de mundos com espaço infinito em que os pontos eram vilas vizinhas e as linhas eram as trilhas por onde as pessoas passavam para ir de vila para vila.
Na tela de um computador, apresentavam imagens de pontos e linhas em ângulo. Então faziam perguntas como: pode uma linha cruzar uma de duas retas alinhadas lado a lado e não outra? Pode uma linha cruzar três pontos não enfileirados?
"Não imaginava que praticamente todos os mundurucus (mais de 90%) concordam sobre a existência de linhas paralelas", diz Izard. Na tarefa de criar um triângulo no plano, os autores ficaram impressionados em ver que a estimativa média dos mundurucus para a soma dos três ângulos internos desviava apenas 5° dos 180º.
Como todo mundo aprende na escola, a resposta correta é mesmo 180 graus.

TRIANGULAÇÕES
Apesar de possuir limitações devido à natureza abstrata das tarefas e à barreira cultural e linguística, essa pesquisa apresenta conclusões embasadas por um corpo crescente de outros estudos já realizados.
"Pesquisas sobre como os animais se orientam de acordo com os princípios da geometria, bem como sobre os mecanismos do cérebro para esses comportamentos, têm crescido bastante".
Esse conjunto de fatores biológicos sobre nosso raciocínio matemático pode ajudar novas abordagens e metodologias de ensino de matemática, por exemplo.


Texto Anterior: Resultado ainda é pouco provável, dizem cientistas
Próximo Texto: Foco: Greenpeace tenta impedir ação de petrolífera no Ártico
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.