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Dieta rica em gordura faz mal ao cérebro, diz estudo
Dano causado a um determinado tipo de neurônio pode levar ao diabetes tipo 2
Equipe de cientistas mostra,
pela primeira vez, que a
doença não está só no
pâncreas, mas também na
cabeça dos pacientes
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mais um ponto contra a obesidade. Uma dieta rica em gordura não apenas faz mal ao coração, como também, agora se
descobriu, é danosa ao cérebro.
Um novo estudo mostra que
um certo grupo de neurônios
deixa de funcionar direito diante de altos níveis de gordura. Isso abre caminho para o desenvolvimento de uma das principais doenças de quem está acima do peso, o diabetes tipo 2.
A relação entre obesidade e
diabetes já era conhecida dos
médicos, mas pela primeira vez
cientistas sugerem que a doença não está ligada apenas ao
pâncreas. É como se ela estivesse, literalmente, na sua cabeça.
No cérebro há um grupo de
neurônios conhecidos por sua
sensibilidade ao açúcar. Eles ficam "excitados" diante de glicose, mas ninguém tinha entendido ainda qual era a função
disso. Estudo publicado hoje no
site da revista "Nature"
(www.nature.com) mostra
que esses neurônios detectam
quando o nível de glicose sobe e
desencadeiam um processo para restabelecer a normalidade.
A equipe internacional, liderada por Bradford Lowell, da
Escola Médica de Harvard,
descobriu essa função ao trabalhar com camundongos geneticamente modificados para que
esse grupo de neurônios não
funcionasse adequadamente.
Na presença de glicose, os
animais deixaram de processá-la corretamente e apresentaram intolerância ao açúcar
-estágio anterior ao diabetes.
Em outro experimento, a
equipe avaliou camundongos
obesos e observou que uma
dieta rica em gorduras prejudica o funcionamento desses
neurônios. "Eles perderam a
habilidade de sentir as mudanças no nível de glicose", contou
à Folha Laura Parton, também
da Escola Médica de Harvard,
co-autora do estudo.
Aplicações terapêuticas
O problema parece estar em
uma proteína conhecida como
UCP2, que regula negativamente a sensibilidade dos neurônios à glicose. O excesso de
gordura aparentemente faz aumentar a presença dessa proteína, explica Parton.
"Esse estudo é importante
por identificar que há neurônios específicos envolvidos
com os mecanismos do diabetes. Com um melhor entendimento, talvez seja possível obter drogas melhores para a
doença", afirma o endocrinologista Mario Saad, da Unicamp.
Os pesquisadores acreditam
que a chave do processo pode
ser a UCP2. Remédios que modulem seu funcionamento poderiam melhorar o controle glicêmico em obesos, acreditam.
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