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Orquídea conviveu com dinos, sugere novo fóssil
Plantas existiam há mais de 76 milhões de anos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário botânico visto pelos dinossauros no final do Período Cretáceo (de 76 milhões
de anos a 84 milhões de anos
atrás) era provavelmente mais
florido do que os cientistas
imaginavam até agora.
A descoberta de um fóssil de
abelha com uma "mochila" de
pólen em seu dorso, encontrado na República Dominicana, é
a responsável pela mudança.
"Além da importância em si,
por ser o primeiro fóssil inequívoco de uma orquídea [representada por meio do pólen], a
descoberta ajudou na calibragem da história evolutiva desse
grupo vegetal", disse à Folha o
pesquisador Rodrigo Singer, da
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul).
Agora, os cientistas podem
afirmar que o ancestral das orquídeas atuais já vivia na Terra
no final do Cretáceo, um pouco
antes de os grandes répteis sumirem, há 65 milhões de anos.
O botânico argentino, radicado em Porto Alegre desde
1995, é um dos autores do artigo que descreve o novo fóssil,
publicado hoje pela revista
científica britânica "Nature"
(www.nature.com).
"Não dá para falar que os dinossauros conviveram com
muitas espécies de orquídea,
mas sim que elas já existiam
naquele tempo", afirma Singer.
Até hoje, por causa da falta
de fósseis - alguns foram encontrados, mas não se tinha
certeza de que se tratava de orquídeas-, a idéia vigente era
outra. Esse grupo de plantas é
um dos mais diversos do planeta, com quase 25 mil espécies.
Mas os botânicos achavam que
sua origem fosse mais recente.
"E, neste caso, ficaram registrados tanto a planta quanto o
seu polinizador, a abelha", explica Singer, o que também tem
importância científica.
Ambas espécies já estão extintas, mas elas têm parentes
relativamente próximos ainda
vivos. "O grupo das abelhas
sem ferrão, o mesmo que existe
no Brasil, é um exemplo."
O fóssil dominicano, descoberto em 2000, dentro de um
pedaço de âmbar, tem entre 15
milhões e 20 milhões de anos.
Sua descoberta permitiu aos
pesquisadores rever todas as
datas da árvore genealógica das
orquídeas e concluir pela origem antiga do grupo, que teria
explodido em diversidade após
o final do Cretáceo.
Morta no ato
A cena que antecedeu o momento da fossilização, que acabou ficando para a posteridade,
pode até ser imaginada.
No momento da morte, a
abelha estava mergulhada na
planta, se lambuzando na flor.
No meio do banquete, foi aprisionada por um derrame de resina da árvore sobre a qual a
planta vivia. Sorte da ciência.
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