São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Cientista propõe criar "galinhassauro"

Paleontólogo quer despertar genes de dinossauro ainda presentes no DNA de frangos, gerando patas da frente e cauda

Experimento ajudaria a elucidar detalhes da origem do corpo dos vertebrados e seria demonstração "em carne e osso" da evolução

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

No fundo de toda galinha existe um dinossauro. Debaixo do bico e das asinhas atrofiadas, no núcleo de cada célula, estão relíquias de DNA que funcionaram pela última vez em tempos jurássicos. Jack Horner quer ir além: dá para trazer ao menos parte do monstro pré-histórico de volta para valer, afirma.
Horner, paleontólogo da Universidade do Estado de Montana (EUA), detalha o plano no livro "How to Build a Dinosaur" ("Como Construir um Dinossauro"), publicado neste ano nos Estados Unidos.
Não vai ser preciso obter o genoma dos répteis extintos, porque esse material já está à mão, nos milhões de embriões de galinha gerados mundo afora. Elas, e todas as aves modernas, não passam de uma linhagem de dinossauros bípedes que resistiram à extinção.
"Os genes envolvidos na formação de dentes, na construção dos dedos e em outros detalhes da anatomia dos dinossauros ainda existem no genoma das aves, mas foram silenciados", explica a paleontóloga Mary Higby Schweitzer, colaboradora de Horner que trabalha na Universidade do Estado da Carolina do Norte. "É possível identificar esses genes em galinhas e "ligar" alguns dos que foram silenciados? Sim."

Da asa ao rabo
Com base nesse raciocínio, Horner propõe duas modificações-chave para fazer um "galinhassauro" caminhar sobre a Terra. Basta transformar os ossos que hoje formam as asas em membros anteriores e fazer com que o bicho volte a ter uma cauda (de ossos e músculos, não de penas) para que o parentesco ancestral entre dinos e aves fique muito mais evidente.
A possibilidade é real porque o esqueleto de todos os vertebrados foi "construído" pela evolução com a ajuda de uma longa sucessão de gambiarras. As asas de uma ave, as patas de um dinossauro e as mãos de uma pessoa usam a mesma matéria-prima para desempenhar funções diferentes.
"Dá para ver que algo muito parecido com uma cauda de dinossauro cresce bastante no embrião de galinha, até que ela se detém. O que sobra é um toquinho de cauda, o pigostilo, que não passa de um amontoado de ossos cujo desenvolvimento foi redirecionado", exemplifica Horner no livro.
As dificuldades técnicas ainda são muitas (leia quadro à dir.), mas o paleontólogo aposta que não se trata mais de uma questão de "se", mas de "quando" o bicho vai se tornar real.


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