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Cientista propõe criar "galinhassauro"
Paleontólogo quer despertar genes de dinossauro ainda presentes no DNA de frangos, gerando patas da frente e cauda
Experimento ajudaria a
elucidar detalhes da origem
do corpo dos vertebrados
e seria demonstração "em
carne e osso" da evolução
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
No fundo de toda galinha
existe um dinossauro. Debaixo
do bico e das asinhas atrofiadas,
no núcleo de cada célula, estão
relíquias de DNA que funcionaram pela última vez em tempos
jurássicos. Jack Horner quer ir
além: dá para trazer ao menos
parte do monstro pré-histórico
de volta para valer, afirma.
Horner, paleontólogo da
Universidade do Estado de
Montana (EUA), detalha o plano no livro "How to Build a Dinosaur" ("Como Construir um
Dinossauro"), publicado neste
ano nos Estados Unidos.
Não vai ser preciso obter o
genoma dos répteis extintos,
porque esse material já está à
mão, nos milhões de embriões
de galinha gerados mundo afora. Elas, e todas as aves modernas, não passam de uma linhagem de dinossauros bípedes
que resistiram à extinção.
"Os genes envolvidos na formação de dentes, na construção dos dedos e em outros detalhes da anatomia dos dinossauros ainda existem no genoma
das aves, mas foram silenciados", explica a paleontóloga
Mary Higby Schweitzer, colaboradora de Horner que trabalha na Universidade do Estado
da Carolina do Norte. "É possível identificar esses genes em
galinhas e "ligar" alguns dos que
foram silenciados? Sim."
Da asa ao rabo
Com base nesse raciocínio,
Horner propõe duas modificações-chave para fazer um "galinhassauro" caminhar sobre a
Terra. Basta transformar os ossos que hoje formam as asas em
membros anteriores e fazer
com que o bicho volte a ter uma
cauda (de ossos e músculos,
não de penas) para que o parentesco ancestral entre dinos e
aves fique muito mais evidente.
A possibilidade é real porque
o esqueleto de todos os vertebrados foi "construído" pela
evolução com a ajuda de uma
longa sucessão de gambiarras.
As asas de uma ave, as patas de
um dinossauro e as mãos de
uma pessoa usam a mesma matéria-prima para desempenhar
funções diferentes.
"Dá para ver que algo muito
parecido com uma cauda de dinossauro cresce bastante no
embrião de galinha, até que ela
se detém. O que sobra é um toquinho de cauda, o pigostilo,
que não passa de um amontoado de ossos cujo desenvolvimento foi redirecionado",
exemplifica Horner no livro.
As dificuldades técnicas ainda são muitas (leia quadro à
dir.), mas o paleontólogo aposta que não se trata mais de uma
questão de "se", mas de "quando" o bicho vai se tornar real.
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