São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Impacto da ideia vai além de dinossauro

DA REPORTAGEM LOCAL

O que a ciência tem a ganhar com a gênese do frango jurássico? Em primeiro lugar, argumenta Jack Horner, seria o golpe de relações públicas definitivo em favor da evolução.
Se for possível convencer o público de que o bicho não é mera aberração genética, mas o fruto de um potencial presente nas células de qualquer galináceo, o elo evolutivo entre dinos e aves, e o existente entre os demais seres vivos, seria ilustrado de uma forma que nenhum museu conseguiria igualar. Horner diz que seu sonho é participar do programa de TV de Oprah Winfrey levando o bicho na coleira.
O paleontólogo Max Langer, da USP de Ribeirão Preto, diz que não se pode restringir o potencial científico da ideia ao estudo dos dinossauros. "O projeto pode ajudar a esclarecer a influência da genética no desenvolvimento, e a do desenvolvimento na forma final dos seres vivos. São perguntas mais amplas e importantes."

Sem o fascínio
Langer, no entanto, não se identifica com outra motivação de Horner: a de ver seu objeto de estudo enfim "ressuscitar".
"É óbvio que seria divertido ver um bicho desses, mas eu não ficaria comovido. Além de ter algo de show de horrores, seria como um filme mesmo. Ele seria tão dinossauro quanto o T. rex do Spielberg. Ou seja, não seria!"
Langer argumenta que, na verdade, a criatura seria um olhar para o futuro, e não para o passado. Por isso mesmo pareceria menos atraente para muitos especialistas em dinos.
"Eu sou um paleontólogo, eu olho para o passado. Minha identificação é mais com a história do que com qualquer outro ramo da biologia", diz ele.
"Seguindo a analogia histórica, os galinhossauros seriam como aqueles experimentos que tentam criar regimes totalitários em pequenos grupos sociais parcialmente isolados. Isso, claro, pode gerar dados para entender como surgiram os governos fascistas. Mas eu quero mesmo é saber quantas pessoas morreram na Guerra Civil Espanhola, e isso a gente só descobre mexendo nos arquivos, no nosso caso, os enterrados há milhões de anos." (RJL)


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