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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Kit ajuda a entender forma tridimensional de molécula
"Lego" ensina estrutura de proteína
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um conjunto de peças de plástico colorido, o Protein Folder, promete se tornar uma ferramenta
divertida para ensinar candidatos
a cientista e pesquisadores experientes a montarem as complicadas estruturas das proteínas.
Esses gigantes do mundo molecular, formados por milhares de
átomos, se enovelam em estruturas tridimensionais aparentemente ininteligíveis para um leigo. Conhecer essa estrutura espacial é importante porque a função
das proteínas está estreitamente
relacionada com sua forma.
O kit consegue colocar ordem
nesse caos e permite que seu
usuário construa sua própria proteína. No caminho, aprende as regras que governam o processo.
O responsável por criar esse Lego da biologia molecular é o pesquisador Richard Charles Garratt,
do Centro de Biologia Molecular e
Estrutural do Instituto de Física
da USP de São Carlos (http://cbme.if.sc.usp.br). Inglês radicado no Brasil desde 1989, ele trabalha exatamente com a decifração
da estrutura das proteínas, usando um processo conhecido como
cristalografia. No processo, a molécula é "congelada" num cristal e
seu formato é examinado com a
ajuda de raios X, espalhados segundo padrões conhecidos (difração), de acordo com a estrutura
da macromolécula em estudo.
A idéia para o kit nasceu dos
problemas detectados pelo cientista quando ele tentava explicar
os conceitos da estrutura protéica
para os seus alunos.
"Nas aulas, a gente costumava
usar estes modelos atômicos", explica Garratt, mostrando uma cadeia comprida formada por "átomos" (bolinhas de plástico) e suas
ligações (bastões também de plástico). "Todo mundo dizia que entendia. Aí eu dizia: "Bom, se entenderam, então façam", mas aí a
coisa se complicava. Afinal, esse
troço se enovela no espaço tridimensional. Se a gente fosse fazer
átomo por átomo, ia levar o ano
inteiro para terminar, ia ficar um
trambolho e não ia ajudar em nada para entender", afirma.
Improviso
Por algum tempo, Garratt tentou improvisar. Usou, por exemplo, fios de cobre enrolados em
volta de uma caneta para simular
a torção da cadeia de aminoácidos (os tijolos moleculares de que
são feitas as proteínas, cujo número pode chegar a centenas numa mesma cadeia), para representar a chamada hélice-alfa descrita por Linus Pauling em 1951.
Em seu modelo final, Garratt
partiu de modelos visuais existentes na ciência (impressos ou no
computador) das estruturas básicas que compõem as proteínas.
Dois desses elementos principais são as hélices-alfa e as folhas-beta (fitas bem menos espiraladas
de aminoácidos, que lembram
mais folhas ou tiras de papel levemente pregueadas). As diferentes
fitas que formam as folhas-beta
estão unidas por ligações de hidrogênio, enquanto as hélices-alfa não estão. "Essas formas são
predominantes porque a cadeia
de aminoácidos tende a ficar mais
estável com elas", explica Garratt.
Bastou criar pecinhas de plástico cujo formato representasse essas estruturas básicas, além das alças que podem ligar hélices-alfa a
folhas-beta. Nesse caso, a estrutura é bastante irregular e pode ser
representada simplesmente por
um cabo retorcido. O mais importante, porém, é que as peças
coloridas não se juntem aleatoriamente, mas seguindo as mesmas
regras que regem as ligações químicas das proteínas reais.
Restava o teste final: a sala de
aula. "Nos workshops que nós estamos realizando, gastamos de 20
a 25 minutos explicando as regras
básicas da formação da estrutura
de proteínas e mais cerca de uma
hora para que as pessoas montem
sua própria proteína com as peças", diz Garratt. "Posso dizer que
o sucesso é de quase 100%, e todo
mundo sai feliz da vida com a sua
proteína montada. E você não fica
simplesmente mostrando a estrutura feita. Cada um monta a sua, o
que tem um efeito muito maior
no aprendizado", afirma.
Versatilidade
Em princípio, daria para fazer
um modelo de qualquer proteína.
As únicas limitações relativas seriam de tamanho. "Você pode
destacar uma área de interesse,
como o sítio ativo [a região onde
acontece a interação da proteína
com outros compostos orgânicos], usando cores diferentes. Dá
para variar também a escala."
Embora o propósito dos kits seja educacional, Garratt conta que
enviou o sistema a outros especialistas em estrutura protéica. Alguns disseram que ver e manipular a proteína poderia trazer idéias
interessantes, já que forma e funcionamento estão estritamente ligados nesse tipo de molécula.
Os modelos já estão patenteados no Brasil. Os próximos passos
são conseguir uma patente internacional e negociar a produção
dentro e fora do país, a um preço
acessível. O projeto é financiado
pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo). (RJL)
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