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OPINIÃO
Corte de 20% de CO2 é enrolação climática
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O GOVERNO SE prepara
para definir, na próxima terça-feira, a meta
de redução de emissões que o
Brasil levará à conferência sobre mudança do clima de Copenhague, em dezembro.
Caso opte pela proposta de
"consenso", de oferecer como
compromisso brasileiro apenas
a redução do desmatamento na
Amazônia, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva estará não
apenas abdicando do papel de
liderança que diz querer ter, como também cometendo um ato
de enrolação climática.
Lula precisa decidir entre
duas propostas atualmente na
mesa. Uma vem do Ministério
do Meio Ambiente, que quer
que o Brasil faça um desvio de
40% em sua trajetória de emissões até 2020, devolvendo-as
aos níveis de 1990.
A outra, puxada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e
defendida pelo Itamaraty, postula que o Brasil coloque na
mesa apenas a proposta de reduzir em 80% o desmatamento
na Amazônia até 2020. Na prática, isso representaria um desvio de 20% em relação ao cenário tendencial de CO2.
A vida continua
Reduzir o desmatamento é
um bom começo. Hoje, segundo dados do Ministério do Meio
Ambiente e de um estudo do
grupo de Carlos Cerri, da USP,
o desmate responde por cerca
de 50% das emissões. Uma redução de 80% do desmatamento amazônico (que já não é fácil
de cumprir) teria um efeito
imediato considerável sobre a
trajetória brasileira.
O diabo é que o mundo não
acaba em 2020. E as emissões
brasileiras nos setores realmente atrelados ao PIB continuarão crescendo após 2020,
como cresceram inexoravelmente nos últimos 15 anos.
O desmatamento na Amazônia é, quase todo, produto de
crime. Não está atrelado ao
crescimento econômico. À exceção da queda quase consistente nos últimos quatro anos,
não tem uma trajetória definida. Como qualquer crime, varia
em função de estímulo (ou
omissão) oficial e repressão.
Nesse sentido, é quase um "ruído", que mascara as reais emissões da economia nacional.
Benefício anulado
Já os setores agropecuário e
energético só fazem crescer.
Segundo Cerri, a alta desde
1990 foi de 65% nas emissões
decorrentes da queima de combustíveis fósseis e 38% nas
emissões da agropecuária. Tudo acima do PIB e bem acima
da média mundial de crescimento de emissões, 28%.
Se mantido nesse ritmo, o
crescimento das emissões desses setores anularia já em 2030
o benefício obtido pela redução
do desmatamento. Em vez de
um pico e um declínio a partir
de 2020 -que é o que se espera
que aconteça com as emissões
do mundo todo-, o Brasil teria
um declínio e uma alta.
Isso é ruim não só por colocar o Brasil na contramão do
esforço global, mas também
porque o custo de cortes futuros só faz aumentar.
A Indonésia, cujas emissões
são ainda maiores que as do
Brasil, ofereceu uma proposta
mais ousada: 26% de corte incondicional, 41% condicionados a ajuda internacional.
Uma coisa é o Ministério da
Ciência e Tecnologia se opor
por razões técnicas aos cálculos
feitos pela equipe do ministro
Carlos Minc, do Meio Ambiente -que já estão sendo refeitos,
com ajuda do próprio MCT.
Outra coisa é jogar fora o proverbial bebê com a água do banho e aferrar-se a um compromisso que tem cara de ambicioso, mas que, se olhado de perto,
é bem modesto.
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