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ANÁLISE
Convenção de Copenhague salvou Nagoya do fracasso
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
Depois de 18 anos de indigência, a Convenção da Biodiversidade das Nações Unidas enfim tem um protocolo
para chamar de seu.
O acordo histórico sobre
repartição de benefícios por
uso da biodiversidade evitou
que mais uma conferência
ambiental da ONU naufragasse, menos de um ano
após o fiasco das conversas
sobre clima em Copenhague.
O chamado ABS vinha travado desde a gênese da convenção, na Eco-92, devido à
recusa dos países ricos em
cortar os benefícios de setores, como o farmacêutico, fazendo-os pagar pelo uso de
espécies do Terceiro Mundo.
O Brasil, país mais biodiverso do planeta -e, portanto, ator principal em Nagoya- partiu para o tudo ou nada: só toparia as metas de
proteção da biodiversidade
se elas viessem num "pacote
completo", que incluísse financiamento e ABS.
Dispostos a evitar o vexame de outra Copenhague, a
União Europeia e os anfitriões japoneses cederam.
Copenhague, por vias tortas,
salvou Nagoya.
Embora o encontro no Japão forneça algum frescor
moral para as negociações
climáticas que recomeçam
no mês que vem em Cancún,
dificilmente bastará para resgatar a credibilidade do processo nas Nações Unidas.
As duas convenções, afinal, são muito diferentes em
seus objetos e em suas ligações com a economia.
Não há por aí "céticos do
desmatamento" bancados
pelo lobby das motosserras,
como há céticos do clima
bancados pelo petróleo.
Além disso, os principais
entraves ao acordo do clima,
EUA e China, são figurantes
nas conversas sobre biodiversidade. Aqueles não são
nem mesmo signatários da
convenção; esta, como país
em desenvolvimento, tem
mais a ganhar do que a perder adotando uma posição
construtiva: pode abocanhar
uma porção da bufunfa prometida para a conservação.
A vitória em Nagoya acontece provavelmente tarde demais para interferir na eleição de domingo. Mas a ministra Izabella Teixeira, que
liderou a delegação brasileira no endurecimento crucial
para o sucesso na COP-10,
volta do Japão aprovada no
seu primeiro teste de habilidade política -e cacifada para permanecer no cargo caso
Dilma Rousseff seja eleita.
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