São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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Ministro diz ter certeza sobre desmate

Sergio Rezende diz que margem de erro dos números do Inpe que apontam a devastação acelerada é menor que 5%

Governador de Mato Grosso, que contesta dados federais, sobrevoou ontem área desmatada ao lado da ministra do Meio Ambiente

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SINOP

CLAUDIO ANGELO
EM BRASÍLIA

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, disse ontem à Folha que tem de 95% a 97% de segurança de que os dados sobre o desmatamento da Amazônia do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no final de 2007 estão certos. O instituto, cujos dados têm sido objeto de dúvida do governo de Mato Grosso, do Ministério da Agricultura e até do presidente Lula, é subordinado à pasta de Rezende.
"Em ciência nunca há 100% de certeza", afirmou o ministro, que é físico. Mas ele disse estar seguro dos dados. "É curioso que, quando o Inpe informava que o desmatamento estava caindo, ninguém questionava o dado." Questionado sobre qual margem de erro aplicaria aos dados, Rezende respondeu: "De 3% a 5%". As declarações do ministro foram dadas após conversa com Gilberto Câmara, diretor do Inpe, que o sobrevoou ontem por quase duas horas, com um helicóptero militar, áreas que, segundo seus dados do instituto, teriam sido desmatadas no município de Marcelândia (870 km de Cuiabá) -líder do ranking dos 36 mais devastados nos últimos cinco meses de 2007. A observação aérea constatou a degradação prevista na análise do instituto.
Mesmo assim, o Inpe concordou ontem em fazer uma conferência dos dados referentes ao desmatamento detectado em Mato Grosso entre os meses de outubro e dezembro de 2007 pelo sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real). A forma de analisar os dados, no entanto, será mantida. "Conferência é diferente de revisão. Nós temos confiança de que nossos dados estão corretos", disse Câmara.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia dado ordem para que a Polícia Federal e os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura verificassem em campo se de fato houve aumento do ritmo de desmatamento da Amazônia nos últimos cinco meses de 2007. O avião que transportou Câmara ontem levava também uma comitiva liderada pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.
"O que nós não vamos é ficar discutindo se o desmatamento está aumentando ou não", disse Marina. "Vamos agir com sentido de urgência. Neste ano, com maior rigor." Ao chegar a Marcelândia para se juntar à comitiva, Blairo Maggi disse ontem serem "imprecisos" os dados obtidos pelo sistema Deter. "Não se pode dizer qual é o tamanho da área desmatada simplesmente pelos dados do Deter. Esses possíveis pontos têm de ser checados em campo."
Segundo Maggi, é grande a possibilidade de que tenham se repetido, no levantamento divulgado na semana passada, os erros já admitidos pelo Inpe no período de agosto e setembro -quando só 20% dos pontos de possível desmatamento recente foram constatados em campo. "Não quero que o Estado pague por aquilo que não fez."
A viagem da comitiva, concluída em Sinop (MT), não foi acompanhada pela imprensa. Em outro avião saindo de Cuiabá, a Folha refez parte do trajeto, ao lado do superintendente de Infra-estrutura da Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), Salatiel Araújo. O sobrevôo seguiu em direção a um desmatamento estimado pelo Inpe em 4.000 hectares -a maior área contínua de derrubadas no Estado, entre agosto e dezembro, segundo o Deter. A área, na visão de Araújo, sintetiza bem a discrepância dos dados. No local, ocorreu uma queimada.
"Podemos discutir se o fogo pode ser intencional ou não, mas o fato é que não houve desmatamento aqui. Essa é uma área que já vinha sofrendo exploração seletiva de madeira há muito tempo, já estava enfraquecida, e sofreu com o fogo", disse o superintendente, diante do cenário de árvores esparsas e de aparência seca que entrou nos registros do Inpe como uma derrubada.
"Não é uma queimada natural", disse Câmara em Brasília, ao voltar do sobrevôo. "A metodologia do Inpe considera áreas desmatadas as que estão suficientemente degradadas. Considerar [isso] como queimada é um sofisma."


O jornalista RODRIGO VARGAS viajou de avião nos trechos Cuiabá-Marcelândia e Marcelândia-Sinop a convite do governo de Mato Grosso


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