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EVENTO
Historiador compara achado à conquista do Everest
Debate demonstra impactos da descoberta da estrutura do DNA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Embora o ano de
1953 tenha sido repleto de acontecimentos que a humanidade poderia
considerar de valor
histórico, nenhum teve um impacto tão duradouro na forma de
entender e manipular a natureza
quanto a descoberta da estrutura
do DNA -e por isso os 50 anos
do achado são dignos de comemoração. Essa mudança na paisagem da biologia foi o foco do debate realizado quarta-feira passada no auditório da Folha para comemorar a descoberta de James
Watson e Francis Crick.
O evento, promovido pelo jornal em colaboração com a Fiocruz
e o British Council, teve início
com uma palestra do historiador
da ciência Robert Olby, "O Jubileu de Ouro da Dupla Hélice".
Com humor, Olby -que é britânico, mas dá aulas na Universidade de Pittsburgh (EUA)- comparou o impacto da dupla hélice a
dois outros eventos históricos para os cidadãos do Reino Unido
naquele mesmo ano: a conquista
do monte Everest e a coroação da
rainha Elizabeth 2ª.
"No primeiro caso, o máximo
de resultados que conseguimos
hoje talvez tenha sido a descoberta de formas melhores de tratar
pessoas com falta de ar em grandes altitudes -sem falar nos milhares de recipientes de oxigênio
deixados lá em cima, poluindo
um dos últimos ambientes intactos da Terra", brincou Olby. "E
duvido que alguém hoje queira
comemorar os 50 anos de coroação da rainha."
Por outro lado, a dupla hélice do
DNA teve impacto duradouro sobre a agricultura, a medicina, a
farmacologia e até sobre a criminologia -sem falar no receio do
público mundial sobre eugenia e
manipulação genética, ressaltou.
Com mediação do editor de
Ciência da Folha, Marcelo Leite,
que na ocasião lançou seu livro
"Folha Explica o DNA" (Publifolha), o debate contou também
com a participação do bioquímico Fernando de Castro Reinach,
diretor da empresa de biotecnologia Allelyx e um dos idealizadores
dos projetos genoma no Brasil, e
do físico Ildeu de Castro Moreira,
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro).
Moreira enfatizou o caráter cumulativo da tradição da genética,
que teria permitido a Watson e
Crick chegarem com sucesso ao
modelo da dupla hélice. Para ele,
o fato de a estrutura do DNA revelada pelos dois ser geometricamente simples e elegante reforça a
idéia de que muitos dos paradigmas científicos se organizam em
torno de imagens semelhantes,
como o círculo para os antigos
gregos ou a elipse para os astrônomos do século 17.
Para Reinach, o grande mérito
da descoberta foi finalmente ancorar no mundo real uma noção
que permanecera completamente
abstrata e misteriosa durante toda
a história humana: a hereditariedade. Essa concretude dos genes
teria sido o passo fundamental
para controlar a hereditariedade
diretamente, gerando a biotecnologia, segundo Reinach.
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