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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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EVENTO

Historiador compara achado à conquista do Everest

Debate demonstra impactos da descoberta da estrutura do DNA

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Embora o ano de 1953 tenha sido repleto de acontecimentos que a humanidade poderia considerar de valor histórico, nenhum teve um impacto tão duradouro na forma de entender e manipular a natureza quanto a descoberta da estrutura do DNA -e por isso os 50 anos do achado são dignos de comemoração. Essa mudança na paisagem da biologia foi o foco do debate realizado quarta-feira passada no auditório da Folha para comemorar a descoberta de James Watson e Francis Crick.
O evento, promovido pelo jornal em colaboração com a Fiocruz e o British Council, teve início com uma palestra do historiador da ciência Robert Olby, "O Jubileu de Ouro da Dupla Hélice". Com humor, Olby -que é britânico, mas dá aulas na Universidade de Pittsburgh (EUA)- comparou o impacto da dupla hélice a dois outros eventos históricos para os cidadãos do Reino Unido naquele mesmo ano: a conquista do monte Everest e a coroação da rainha Elizabeth 2ª.
"No primeiro caso, o máximo de resultados que conseguimos hoje talvez tenha sido a descoberta de formas melhores de tratar pessoas com falta de ar em grandes altitudes -sem falar nos milhares de recipientes de oxigênio deixados lá em cima, poluindo um dos últimos ambientes intactos da Terra", brincou Olby. "E duvido que alguém hoje queira comemorar os 50 anos de coroação da rainha."
Por outro lado, a dupla hélice do DNA teve impacto duradouro sobre a agricultura, a medicina, a farmacologia e até sobre a criminologia -sem falar no receio do público mundial sobre eugenia e manipulação genética, ressaltou.
Com mediação do editor de Ciência da Folha, Marcelo Leite, que na ocasião lançou seu livro "Folha Explica o DNA" (Publifolha), o debate contou também com a participação do bioquímico Fernando de Castro Reinach, diretor da empresa de biotecnologia Allelyx e um dos idealizadores dos projetos genoma no Brasil, e do físico Ildeu de Castro Moreira, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Moreira enfatizou o caráter cumulativo da tradição da genética, que teria permitido a Watson e Crick chegarem com sucesso ao modelo da dupla hélice. Para ele, o fato de a estrutura do DNA revelada pelos dois ser geometricamente simples e elegante reforça a idéia de que muitos dos paradigmas científicos se organizam em torno de imagens semelhantes, como o círculo para os antigos gregos ou a elipse para os astrônomos do século 17.
Para Reinach, o grande mérito da descoberta foi finalmente ancorar no mundo real uma noção que permanecera completamente abstrata e misteriosa durante toda a história humana: a hereditariedade. Essa concretude dos genes teria sido o passo fundamental para controlar a hereditariedade diretamente, gerando a biotecnologia, segundo Reinach.


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