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CNPq descarta explosão no uso de embriões no Brasil
"Dois ou três" grupos têm condições de derivar linhagens celulares, diz presidente
Ministério da Saúde anuncia verba de R$ 25 milhões para rede virtual que vai ajudar as pesquisas com células embrionárias e adultas
Eraldo Peres - 29.mar.08/Associated Press
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Cadeirante lê jornal em frente ao Supremo Tribunal Federal
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Marco Antonio Zago, disse
ontem que a decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da
pesquisa com células-tronco
embrionárias dificilmente causará uma explosão no uso de
embriões no país. Para ele, a
criação de linhagens de células
embrionárias deve ficar restrita a "dois ou três laboratórios",
devido à sua complexidade.
O governo, no entanto, já se
prepara para tirar o atraso do
país nessa tecnologia. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou ontem que o governo criará no próximo mês
uma rede para integrar o trabalho dos grupos de pesquisa do
país que trabalham com células-tronco humanas.
Segundo Temporão, é preciso recuperar o tempo perdido
por causa da indefinição sobre
a constitucionalidade do artigo
5º da Lei de Biossegurança que,
aprovada em 2005, permitia
esse tipo de pesquisa. O Supremo decidiu anteontem pela legalidade do artigo.
"Infelizmente, o Brasil ficou
três anos parado aguardando
essa decisão. Foi muito prejudicial, mas é possível recuperar
esse tempo perdido, e o ministério está disposto a apoiar institucionalmente, tecnicamente
e financeiramente os grupos
[de pesquisa] que existem no
Brasil", disse o ministro ao
inaugurar novas instalações de
um ambulatório para atendimento à hanseníase na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio.
Ele deu como exemplo desse
apoio o investimento de R$ 25
milhões para criação da rede
brasileira de pesquisas com células-tronco (tanto embrionárias quanto adultas) e disse que
esses seriam apenas recursos
iniciais, pois, se necessário, o
ministério investiria mais.
Rede virtual
"Será uma rede de conhecimento que não terá uma estrutura física, mas que terá o papel
de integrar o conjunto de instituições que terão objetivos e
estratégias em comum. Os ministérios da Saúde e da Ciência
e Tecnologia entram com o financiamento, mas o mais importante é que o conjunto de
cientistas brasileiros poderão
trocar experiências e trabalhar
juntos no desenvolvimento
desse trabalho."
Na avaliação de Temporão, a
decisão de ontem do STF terá
impactos positivos não somente na saúde da população, mas,
também, no desenvolvimento
tecnológico do país. "Não foi
apenas uma decisão em defesa
da vida. Foi uma decisão que
permite ao Brasil desenvolver
tecnologia própria e depender
menos de tecnologia desenvolvida lá fora", afirmou.
Devagar com o andor
Zago também comemorou a
decisão. "O Supremo fez avançar um tópico de extrema importância para a sociedade",
disse. Para ele, o voto de anteontem foi além das células-tronco. "O Supremo se manifestou sobre uma questão ética
que deve ser tratada tendo em
vista o interesse da sociedade,
que não tem vínculo religioso."
Dito isso, porém, Zago pediu
cautela na avaliação da real dimensão científica e clínica do
voto: "Isso não vai mudar absolutamente nada neste momento. Há um longo caminho laboratorial em animais antes de
testes em humanos", disse.
"Não há essa idéia de que um
grande número de laboratórios
vai começar a derivar [células
embrionárias]. Se tivermos
dois ou três laboratórios será
muito." Ele citou o exemplo da
Inglaterra, onde um único laboratório (na Universidade de
Newcastle) centraliza a produção de linhagens de células-tronco embrionárias.
STF
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que fez ressalvas na decisão sobre a constitucionalidade
da Lei de Biossegurança, disse
ontem no Rio que é natural a
posição da Igreja Católica, mas
que o Estado é laico.
"É natural que haja críticas
num sistema como esse. É claro
que a igreja tem a sua missão,
defende o seu entendimento,
mas nós somos um Estado laico. Levamos em conta a liberdade religiosa, mas há outros
paradigmas que foram considerados na decisão, creio que de
todos os ministros."
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