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BIOTECNOLOGIA
Pesquisadores estão em fase final de "soletração" de genes para criação de transgênico resistente a insetos
Embrapa promete superalgodão para 2009
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores brasileiros estão
na fase final de "soletração" de
dois genes extraídos de bactérias
que serão inseridos no primeiro
algodão transgênico criado em
solo nacional. A idéia é ter as plantas disponíveis para cultivo em escala comercial em 2009.
O projeto é coordenado por Roseane Cavalcanti dos Santos, da
Embrapa Algodão, unidade localizada em Campina Grande, Paraíba. O trabalho é realizado com
outro centro da Embrapa, o Cenargen (Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e
Biotecnologia), em Brasília.
Até agora, a pesquisa teve um
custo de R$ 3 milhões, com financiamento de fundações e da própria Embrapa. Santos estima que
as primeiras mudas com os genes
introduzidos artificialmente estejam prontas para testes de biossegurança em 2006, com um investimento de mais uns R$ 500 mil.
Os genes estudados vieram de
dois microrganismos: o Bacillus
thuringiensis, mais conhecido pela sigla Bt, usado em controle biológico e cujos genes integram várias plantas transgênicas, e uma
bactéria do gênero Streptomyces.
Esses dois genes são "receitas"
de proteínas que, em laboratório,
mostraram-se fatais para algumas
espécies parasitas das plantações
de algodão. "Estamos finalizando
o trabalho com "genes inseticidas"
que já se demonstrou terem efeito
letal contra algumas lagartas e o
bicudo [inseto que é o principal
parasita do algodoeiro]", contou
Santos à Folha.
As proteínas codificadas por esses genes foram oferecidas como
alimento a larvas. "Cerca de 57%
das larvas que as ingeriram morreram", afirmou Santos. A pesquisadora também conduziu testes isolados com parasitas fêmeas,
que reduziram em 47% sua produção de ovos após a ingestão.
Também já foram realizados
testes limitados com mamíferos,
para verificar se as proteínas tinham algum efeito tóxico. Ao menos em camundongos, a ingestão
delas se mostrou segura.
Os números são animadores,
mas sugerem que, com o passar
do tempo, as populações de bicudos e outros insetos possam se
restabelecer totalmente, desta vez
com resistência adicional às mudanças genéticas originalmente
introduzidas no algodão.
Isso não desanima os pesquisadores da Embrapa, que pretendem estar sempre um passo à
frente dos inimigos do algodoeiro. "Mesmo com inseticidas comuns isso acontece. Os insetos
acabam adquirindo resistência
-isso é a seleção natural", diz a
coordenadora do estudo. "A nossa perspectiva é que, quando isso
acontecer, a gente já tenha outros
genes para introduzir, numa estratégia piramidal."
A idéia é que as plantas sofram
"upgrades" periódicos de seu
"software" (o genoma, que contém as instruções genéticas para a
"fabricação" da planta), exatamente como hoje se faz com os
computadores, que recebem novos e mais poderosos programas
com o passar do tempo.
Quando os bichos adquirirem
resistência a uma determinada
proteína, o algodão já terá um outro gene para "segurar a barra",
afirma Santos.
Embora esse seja o primeiro algodão transgênico desenvolvido
no Brasil, a criação dessas plantas
em variedades geneticamente
modificadas é bastante comum.
"Se não me engano, já há 19 países
que plantam algodão transgênico.
Os Estados Unidos têm o seu, a
China, também", diz a pesquisadora da Embrapa.
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