São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

BIOLOGIA
Microrganismo é responsável por infecção hospitalar; cientistas identificam razão da resistência a antibióticos
Bactéria oportunista tem DNA decifrado

ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL

Oportunista e com muito mais jogo de cintura do que suas "colegas", a bactéria que é uma das principais causas da infecção hospitalar pode estar com seus dias de glória contados. Pesquisadores dos EUA e da Alemanha concluíram seu genoma (coleção de genes), desvendando alguns dos seus segredos.
Uma das coisas que tornam a Pseudomonas aeruginosa -a bactéria em questão- tão poderosa é a sua resistência aos antibióticos. Além disso, ela é capaz de sobreviver nos mais diferentes ambientes, mesmo quando encontra limitação de nutrientes.
É a principal causa da morte de pacientes com fibrose cística, desordem genética que produz uma secreção viscosa que bloqueia a passagem de ar nos pulmões e predispõe à infecção bacteriana.

Bombeando antibióticos
A Pseudomonas possui o maior genoma bacteriano até agora sequenciado, com 6,3 milhões de pares de bases, representadas pelas letras A, C, G e T.
Os cientistas descobriram duas características que ajudam a entender por que a bactéria é tão resistente e que deverão se tornar o alvo para novas drogas.
Uma delas diz respeito à capacidade de se manter a salvo dos antibióticos. Em comparação a outras bactérias, a Pseudomonas apresenta mais do que o dobro de genes que codificam proteínas que controlam o fluxo de antibióticos para o seu interior. As proteínas funcionam como bombas, jogando para fora do microrganismo o antibiótico que entra.
Além de bombear antibióticos, a Pseudomonas é capaz de regular, aparentemente de forma muito mais eficiente que outras bactérias, o ligar e desligar de seus genes. "Assim, seu potencial de adaptação é maior", disse à Folha Milton Saier, da Universidade da Califórnia em San Diego, que participou da anotação (localização e identificação) dos genes.
Saier fez parte de um grupo de 61 especialistas em Pseudomonas que colaboraram no trabalho de identificar a função dos genes que foram sequenciados.
O genoma da Pseudomonas foi, até agora, o maior a ser decifrado usando-se exclusivamente a técnica de "shotgun", que quebra o cromossomo em pedaços pequenos e lê tudo ao mesmo tempo.
O estudo sai na edição de hoje da "Nature", sendo o 25º genoma bacteriano a ser decifrado.
"A próxima etapa da pesquisa estudará quando e como os genes são ativados", disse Saier.


Próximo Texto: Ecologia: Mudança climática ameaça habitat
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.