São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


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ECOLOGIA
Aquecimento global conduz florestas a migração forçada, diz estudo
Mudança climática ameaça habitat

CLAUDIO ANGELO
DA REPORTAGEM LOCAL

O aquecimento global está produzindo uma nova geração de refugiados. Assim como os migrantes que todo ano abandonam seus países, eles também estão atrás de melhores condições de vida. Só que os retirantes em questão não são pessoas -e sim ecossistemas inteiros. E eles podem se extinguir antes de conseguir asilo.
Um relatório divulgado ontem pela organização não-governamental WWF (Fundo Mundial para a Natureza, em inglês) mostra que até 35,7% dos habitats do planeta podem sumir em um século devido ao aumento da temperatura terrestre.
A principal conclusão do relatório (disponível no site panda.org/ resources/ publications/ climate/ speedkills/) é que o aquecimento global está forçando os biomas (grandes comunidades de espécies) a migrar à procura de melhores condições ambientais.
Só que o ritmo desse aquecimento excede a capacidade dos biomas de migrar à procura de melhores condições ambientais. Resultado: as árvores e os habitats que elas abrigam desaparecem.
A situação mais grave é a das florestas do hemisfério Norte, mais sujeitas à variação súbita de temperatura. Estima-se que regiões como o Canadá, a Rússia e a Escandinávia tenham perdas de habitat superiores a 40%.
"Isso não é uma previsão: é apenas um cenário possível", adverte o zoólogo Adam Markham, da ONG Clean Air-Cool Planet (EUA), co-autor do estudo.
Para realizar suas projeções, ele e o ecólogo Jay Malcolm, da Universidade de Toronto (Canadá), levaram em conta a previsão das Nações Unidas de que a concentração de CO2 na atmosfera irá dobrar em 2100 em relação ao início do século 20.
Se isso acontecer, os biomas terão de migrar a velocidades de até 10 quilômetros por ano, algo difícil de imaginar para uma floresta.
A maior taxa de deslocamento -1 quilômetro por ano- foi registrada durante o final da última era glacial, há cerca de 10 mil anos.

Jogo de cintura
Para o ecólogo José Maria Cardoso da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco, o ponto fraco do relatório é usar apenas o clima como fator que provoca migração. "Nem sempre o clima é a única variável. O solo, por exemplo, também pode influenciar a movimentação do bioma."
É possível também que os ecossistemas simplesmente se adaptem à nova realidade climática.
Um exemplo desse jogo de cintura foi descrito hoje na "Nature" por um grupo de cientistas norte-americanos. Eles descobriram que a tundra, a vegetação rala do Ártico, conseguiu superar os efeitos do aquecimento global.
Nos anos 80, medições mostraram que o aumento da temperatura no Ártico estava provocando um aumento na decomposição da matéria orgânica, fazendo a tundra emitir uma quantidade de gás carbônico maior do que a sequestrada, acabando com o equilíbrio.
O novo estudo mostrou, no entanto, que a decomposição pode ter aumentado o grau de mineralização do nitrogênio no solo. E isso provocou o crescimento das plantas, que voltaram a absorver CO2 do ar. Ao menos uma vez, a natureza deu a volta por cima.


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