São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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Estrela morta gera buraco negro de tamanho recorde

Objeto a 1,8 milhão de anos-luz de distância tem massa de 24 a 33 vezes a do Sol

Recordista anterior ficou no topo só duas semanas; novo buraco contraria previsões e sugere mudança em teorias sobre a evolução estelar

Aurore Simonnet/SSU/Nasa
Concepção artística mostra buraco negro (centro do clarão) engolindo gás de sua estrela vizinha

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um buraco negro recém descoberto, formado a partir do colapso de uma estrela, bateu com folga o recorde de maior "cadáver estelar" já visto por telescópios. Em estudo divulgado ontem, pesquisadores do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, em Cambridge (EUA), estimam que o objeto detectado por eles tenha uma massa no mínimo 24 vezes à do Sol, podendo chegar a 33 vezes.
O gigante engolidor de matéria foi encontrado por meio de imagens dos telescópios Chandra e Swift, da Nasa, ambos capazes de detectar raios X. O buraco negro, um objeto que não emite luz nem nenhum tipo de radiação, não pode ser observado diretamente. A matéria quente que se agrega ao seu redor, porém, emite raios X, e por isso foi possível localizá-lo.
O novo buraco, achado na galáxia IC 10, tirou do trono um outro, anunciado há apenas duas semanas na galáxia M33, com 16 massas solares.
A importância da descoberta desta vez, porém, não é apenas de escala. "Todos as cálculos teóricos feitos até agora sugerem que não é possível surgir um buraco negro maior do que 20 massas solares a partir da morte de uma estrela", disse à Folha Andrea Prestwich, autora principal do estudo que relata a descoberta na revista "Astrophysical Journal Letters".
Buracos negros gigantescos -com milhões de vezes a massa do Sol- existem apenas no centro de algumas galáxias, e não são originados a partir de estrelas colapsadas.
Prestwich conseguiu medir a massa do objeto escuro em IC 10 porque ele orbita uma outra estrela. Medindo a velocidade com que ele gira ao redor dela é possível calcular sua força gravitacional e sua massa.
Segundo a pesquisadora, será preciso reformular teorias sobre como as estrelas evoluem ao longo de sua história para conseguir explicar a existência de um buraco negro tão grande.
A chave, segundo ela, é entender como o vento estelar -uma corrente de partículas eletricamente carregadas- é emitido pela estrela e a faz perder massa. "Acho que veremos que estrelas gigantes perdem muito menos matéria ao longo de sua evolução do que imaginamos, e talvez seu tempo de vida seja menor", diz Prestwich. "Hoje se estima que uma estrela de 100 ou 60 massas solares possa perder 80% de sua massa ao longo da vida. Pode ser que não seja assim."


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