Índice geral Ciência + Saúde
Ciência + Saúde
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Jipe da Nasa faz pouso histórico em Marte

Sonda desceu no planeta carregando laboratório portátil que ajudará a determinar se astro abrigou ou abriga vida

Aterrissagem foi a mais complexa já feita em outro planeta; robô sai para explorar cratera a partir do mês que vem

Brian van der Brug/France Presse
Após sucesso no pouso do Curiosity, funcionários da Nasa comemoram no Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena
Após sucesso no pouso do Curiosity, funcionários da Nasa comemoram no Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena

RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A PASADENA

"Aterrissagem confirmada, estamos seguros em Marte." Com essa frase, o engenheiro Allen Chen, da Nasa, confirmou a chegada do jipe-robô Curiosity ao planeta e fez os técnicos do centro de controle do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) comemorarem como se festejassem uma final de campeonato.

A missão MSL (Laboratório de Ciências de Marte) tem tudo para fazer história: carrega o mais sofisticado conjunto de aparelhos já enviado pelo homem ao planeta.

O objetivo é fazer análises detalhadas da química do solo de Marte, bem como de sua atmosfera, para tentar determinar se o planeta vermelho já teve -ou talvez ainda tenha- formas de vida.

Poucos minutos após a aterrissagem, o jipe já enviou duas fotografias em preto e branco, mostrando uma de suas rodas apoiada numa superfície plana dentro da cratera Gale, que vai explorar.

A aterrissagem, que dependia de uma sequência de comandos automáticos durante sete minutos, sem intervenção humana, foi a mais ousada já feita por um artefato humano fora da Terra.

Por ter 900 kg, o Curiosity não podia ser freado só com paraquedas. Foi preciso usar um guindaste movido a retropropulsores, que depositou o jipe gentilmente no solo.

"O pouso parece ter sido extremamente tranquilo", disse Adam Steltzner, engenheiro que coordenou o procedimento. "Foi lindo."

O sucesso da descida foi também um alívio para os executivos da Nasa, pois uma falha deixaria o programa de exploração de Marte sem novos instrumentos de pesquisa por mais de uma década. O medo de perder US$ 2,5 bilhões e oito anos de trabalho deixava todos apreensivos.

"Hoje nós protagonizamos um grande drama, e me senti como num filme de aventura", disse Charles Elachi, físico libanês que dirige o JPL. "Custou menos de US$ 7 para cada americano, e veja o entusiasmo que gerou."

Após a confirmação do pouso, o presidente Barack Obama fez um pronunciamento no qual o qualificou como "uma façanha tecnológica sem precedentes".

MONTANHA AO LONGE

Logo após as comemorações, físicos na sala de controle começaram a comentar as imagens que chegavam de Marte. Ao fundo de uma das fotos monocromáticas, despontava uma cordilheira.

"É a borda da cratera", disse sorrindo John Grotzinger, cientista-chefe do MSL. A outra foto, menos nítida, mostrava a sombra do jipe e um borrão branco ao fundo. "É o monte Sharp", afirmou, apontando para a montanha que o Curiosity explorará.

O local foi escolhido por ter uma grande diversidade de formações geológicas, o que ajudará o MSL na missão de investigar se Marte tem ou já teve capacidade de abrigar vida. Para tal, o jipe é equipado com dez instrumentos científicos diferentes.

O pouso foi todo acompanhado pela sonda orbitadora Mars Odyssey (que já tem 11 anos de uso). Ela retransmitiu à Terra os dados enviados durante a descida.

"Funcionou como um relógio suíço", disse à Folha o brasileiro Ramon de Paula, executivo de programa da Nasa que trabalha com as duas sondas que orbitam Marte.

Durante a manhã, outra sonda, a MRO (Mars Reconaissance Orbiter), transmitiu ao JPL uma foto do paraquedas em ação.

Se tudo der certo, o jipe deve conseguir enviar hoje à Terra as fotos que fez durante a descida, com uma câmera em sua "barriga".

Amanhã, o Curiosity já começa a movimentar seu braço hidráulico, que está equipado com uma câmera colorida pequena, e na quinta o jipe finalmente levanta o mastro principal para tirar uma foto panorâmica de seu entorno em alta resolução.

As atividades científicas, porém, vão demorar um pouco. O jipe só deve começar a andar em setembro.

Um dos principais avanços do Curiosity é que ele tem um laboratório portátil para análises químicas. "Nas primeiras semanas, vamos aprender a trabalhar juntos", disse Grotzinger. "Temos de coordenar umas 780 pessoas."

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.