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Trocar cateter na veia a cada três dias é desnecessário

Uso prolongado não traz risco para paciente

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Um estudo australiano publicado na revista médica britânica "Lancet" demonstrou que uma prática feita rotineiramente há 40 anos em hospitais de todo o mundo não faz mais sentido.

É universal a ideia de que cateteres nas veias dos pacientes devem ser trocados a cada três dias. É através deles, também conhecidos como "acessos", que os medicamentos são administrados de modo eficiente.

Permanentemente colocados no paciente, impedem que seja necessário dar injeções toda vez que algo precisa ser administrado via veia.

O estudo mostrou que isso não é necessário e que trocar o cateter apenas quando clinicamente obrigatório pode economizar milhões de dólares, além de evitar o trabalho adicional dos enfermeiros e poupar os pacientes de um incômodo extra, já que o novo acesso vai ter de furar outra parte do corpo.

O exemplo americano impressiona. Segundo o artigo, cerca de 200 milhões de cateteres intravenosos são inseridos por ano apenas nos EUA.

Supondo que 15% deles são necessários por mais que três dias, mudar o procedimento para a substituição apenas quando necessária evitaria o uso de 6 milhões de cateteres, economizando 2 milhões de horas de trabalho da enfermagem e até US$ 60 milhões, segundo a principal autora do estudo, Claire Rickard, da Griffith University, Austrália.

OBSOLETO

Já existiam indicações de que a regra dos três dias estava obsoleta. Seu objetivo era prevenir infecções e a inflamação das veias conhecida como flebite. Mas agora trata-se do primeiro estudo envolvendo um grande número de pacientes.

Foram avaliados 3.283 pacientes em hospitais australianos que receberam 5.907 cateteres nos vários locais possíveis -em cima do antebraço, debaixo dele etc. Foram divididos em 1.593 que trocavam o acesso apenas quando necessário e 1.690 que tinham a troca de rotina, teoricamente a cada 72 horas.

No estudo, na prática, o cateter do grupo da estratégia tradicional foi substituído a cada 70 horas em média e a cada 99 horas no grupo do "clinicamente necessário".

O principal fator testado -a inflamação, a flebite, que causa avermelhamento e inchaço da região de inserção do cateter- ocorreu na mesma proporção nos dois grupos testados: 7% dos casos. Não houve efeitos mais sérios, como infecções graves, em nenhum dos pacientes.

Curiosamente, o estudo mostrou que um dos maiores problemas com os cateteres intravenosos foi a sua remoção acidental ou por defeitos ou por infiltração: quase 30% dos casos. Ou seja, a flebite e a infecção causaram menos problemas, ao contrário daquilo em que se tem acreditado por 40 anos.

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