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Nina Horta

A volta do pequeno Carnaval

Acho que é a única festa mais bem comemorada com água e bebida do que com comida

Fiquei assistindo a uns vídeos de Carmen Miranda no Youtube, mandados de Londres por minha neta. Acho que descobriu lá, o que é que a baiana tem.

Meninos, que garota! Meninas, que estilista genial era essa Carmen. Prestem atenção nas roupas, nos acessórios, nos "fascinators" de cabeça. As netas da rainha inglesa nos mostraram como é difícil um "fascinator" bonito. E a roupa de Carmen não morre. Sapatos anabela? Pulseiras mil nos dois braços?

O perfeito encaixe da roupa com o corpo? Me parece que ela poderia cruzar uma passarela hoje, agora, sem causar estranheza.

Neste tempão de escrever na Folha, nunca deixei de reclamar pelo Carnaval desaparecido. Não é possível que nós, que conseguimos o espetáculo das escolas de samba, o maior do mundo, vamos deixar cair a peteca dos bailes, dos concursos de fantasia, das bandas de rua. Não estou falando de São Paulo, que acho que poderia criar sua própria festa sem imitar ninguém. Se aqui é mais melancólico, vamos de "Trem das Onze", mesmo, que é lindo.

Claro que se os amantes de Carnaval se empenharem, tudo vai ser diferente, adaptado aos tempos. Foi-se aquela ingenuidade romântica, mas há ainda o nosso jeito de dançar. Estamos numa época de dança, todo mundo dança tudo, vão deixar justamente o Carnaval pra fora? Que ideia de jerico...

Mas vocês não estão sentindo no ar que o pequeno Carnaval está voltando? E, se custar a pegar de novo, é só dizer que é saudável, que emagrece, que rir evita males do coração, que pular enrijece as pernas, que cantar faz bem à alma, que as cidades se enchem de turistas.

Na verdade, a única diferença de antigos Carnavais para os de hoje é a "mostração". Me lembro do primeiro desfile da Luma de Oliveira. A criatura resplendia de peitos de fora. Mas não era para a TV, não era para o público, era para ela se divertir e cantar e dançar e desreprimir. Só no primeiro desfile, daí em diante desfilou para os outros, desfile espetáculo, perdeu a graça. Quando a bunda rebola quase na boca da câmera, de propósito, é feia, é burra. Só as bundas inconscientes de sua "bundeza" são lindas, mais frescas, mais atraentes.

Carnavalescos, tratem de se divertir, a TV agradece, ninguém está procurando bumbum oferecido e sim bumbuns velozes, duros, engraçados, fartos, generosos, empinados, felizes, ritmados pelo samba. Esqueçam por três dias a mídia, a mídia é a própria bunda inocente, totêmica, respeitavelmente bela e culta como a língua portuguesa.

Comida de Carnaval já pensei muito, não tem uma especialidade, acho que é a única festa mais bem comemorada com água e bebida do que com comida.

Faço entrevistas, pergunto, ninguém se lembra das ceias da Sapucaí ou do camarote da Brahma. Tem que ser coisa popular, mesmo, aquele sanduíche triangular de presunto que de tão seco começa a suspender as pontas. E um guaraná quente para ele descer. As tradições se inventam, podemos até começar uma neste 2012. Milho cozido, garapa, churros, picolé de todas as cores e frutas. E as águas vão rolar...

ninahorta@uol.com.br

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