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A Gourmet - Alexandra Forbes

Tendências gastronômicas mundo afora

Antipatia parisiense, viva e forte

Esperava que a crise na Europa tivesse motivado os "restaurateurs" a cuidar melhor de seus clientes

FUI A Paris em março com um entusiasmo quase infantil, ansiosa para conhecer, finalmente, lugares sobre os quais lera muitos elogios. Como companhia, tinha três amigas brasileiras tão gulosas quanto eu.

No primeiro dia saí, radiante, de bicicleta, para encontrá-las no pomposo hotel Plaza Athenée para um chá. Cheguei antes do que elas, mas, de tão esnobe a hostess, recusei-me a esperá-las e voltei ao hotel.

No almoço do dia seguinte, comemos razoavelmente bem no novíssimo Terroir Parisien do chef Yannick Alléno (três estrelas "Michelin" em seu restaurante principal, no hotel Le Meurice). No fim, ele veio à mesa perguntar como estava tudo. "Altos e baixos", respondi. Com ar irritado, voltou à cozinha e mandou que nos servissem copos de champanhe. Não nos comoveu.

Na mesma noite vi o quão ruim pode ser o serviço em um restaurante de grande reputação: saí de um jantar no La Gazzetta (do chef Peter Nilsson) irritada com o descaso e a lentidão dos garçons.

O fundo do poço foi um infeliz almoço no inexplicavelmente hypado Le Baratin, um bistrô de bairro vivamente recomendado. Que aperto!

Sendo justa, devo dizer que nem sempre fomos maltratadas. No Camélia, bistrô no novo Mandarin Oriental (sob o comando de outro chef estrelado, Thierry Marx), serviram-me como rainha -e mais ainda quando voltei uma segunda vez (nada como uma rede de hotéis asiática para ensinar aos franceses a servirem com um sorriso).

Ali pertinho, na casa de chás e doces japonesa Toraya, também encontramos garçons impecáveis e gentis. Mas, nos bistrôs moderninhos, invariavelmente, frustramo-nos com a pressa ou a desatenção.

No Twitter, ao ler alguns de meus desabafos, um seguidor me passou um pito. Criticar a antipatia parisiense como se fosse alguma novidade? Que coisa démodé e inútil!, disse ele. Talvez ele tenha razão.

Tolamente, esperava que a crise financeira na Europa tivesse motivado os "restaurateurs" de Paris a cuidar melhor de seus clientes... Parti sem vontade de voltar tão cedo.

NA PRÓXIMA SEMANA, NO "COMIDA":
André Barcinski

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