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Nina Horta

Sobre dadinhos e uniformes

As brasileiras gostam de uma barriguinha de fora, de decote, cintura fina, até de uma pulseira no tornozelo

RECEBO UM e-mail do leitor Donizete, ele poeta, e dos bons: "Querida, sua crônica hoje merece um dadinho Dizioli IV Centenário. Aquele com amendoim. Fui fã das garrafinhas de chocolate com licor. Uma vez fui ver TV no vizinho (ainda não tínhamos em casa) e, muito miserável, escondi minhas garrafinhas no bolso. Graças ao meu desajeito, elas quebraram e fui embora com o bolso melecado de licor e chocolate.

Agora, aquelas duas crônicas esnobes sobre falta de uniforme para as auxiliares, francamente. Vá lá na avenida Tiradentes e compre um daqueles uniformes prontos para elas (risos!). Ou então peça para a Clô Orozco desenhar os uniformes. Faz permuta! Beijos, Donizete".

Ora, Donizete, saiba que não me lembro desses dadinhos mequetrefes e suspeito que você é dos tais que só gosta de reminiscências. Na verdade, fui tratar de uniformes e me meti numa enrascada. Primeiro, porque os livros tratam mais de uniformes masculinos. Vocês, homens, adoram um "uniformezinho", vide os militares e os ternos de todo dia.

E o óbvio é que vivemos de uniforme de nossas turmas, reconhecidas a um simples flash de uma calça comprida com elástico na cintura e sandálias Birkenstock.

E ainda tive de mergulhar em Roland Barthes, no livro "Sistema da Moda" (ed. WMF Martins Fontes). Ele sugere que, para entendermos a moda, deveríamos aplicar a distinção de Ferdinand de Saussure entre "langue" e "parole".

"Langue" seria o sistema inteiro da moda e da língua, abstrato e definido por suas funções, e "parole", a palavra, seria a linguagem como é falada, a roupa usada pelo indivíduo, fazendo-a única pelo seu modo de usá-la. Suja, limpa, colorida, com bordadinho, sem bordadinho. E eu que sou a esnobe, hein?

Outros mostram o uniforme como uma coisa socialmente obrigatória. Numa festa, por exemplo, se o garçom estiver vestido como você, corre-se o perigo de que o convidado de honra seja cutucado o tempo todo para ir pegar um uísque no bar.

O que eu queria comentar é que brasileiros e brasileiras têm um jeito muito informal de ser. No fundo, as mulheres brasileiras gostam de uma barriguinha de fora, de um decote profundo, de uma cintura fina, até de uma pulseira no tornozelo. Como uniformizá-las com uma roupa que ao mesmo tempo sirva de comunicação com os outros? (Estou aqui de copeira, às suas ordens).

Uma vez vestimos a nossa produtora de festas, que era linda -olhos azuis, alta-, com um macacão de grife, de linho, azul claro. E lá se foi ela, feliz para a festa. Era o aniversário de uma conhecida e bela quarentona. E foi triste. Implicou com a menina com ranger de dentes, ódio da Carminha da novela estampado no rosto. A menina uniformizada de azul, como seus olhos, arrasou (principalmente entre os homens, esses danados que não sabem disfarçar) e estragou a festa. Nunca mais ouvimos falar da cliente.

Entendeu? Esnobe é você que não me deixa pensar alto e já quer acabar com o assunto "bundas brasileiras versus uniformes comportados". Bem, acho que até me ajudou. Vamos ao tradicional "chemisier" com golas bordadas.

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