São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011

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CACHACEIROS

Degustador ensina que, para ser bom, o destilado brasileiro só precisa ter cheiro de cana

Rafael Andrade/Folhapress
Aluno de curso de degustador de cachaça prova aguardente

FÁBIO SEIXAS
DO RIO

Na ficha de avaliação, opções como "inhaca" e "na falta de tu, vai tu mesmo".
Virando a página, novas opções. De categorias mais ortodoxas como "seca" e "densa" a classificações mais livres: "parece remédio" e "engoli um gato".
A primeira ficha refere-se ao aroma. A segunda, ao sabor. Ali à frente, o professor brada: "A boca do degustador é insubstituível".
Num curso de formação básica de degustador de cachaças, no Rio, o "cachaçólogo" Marcelo Câmara, degustador profissional e consultor de alambiques pelo país, é radical na defesa da bebida.
"Tem muito conhecedor de uísque e de vinho falando de cachaça. Gente que nunca entrou num engenho, que não toma aguardente", diz.
"No restaurante, o maître não sabe indicar uma cachaça. Você pede uma caipirinha e perguntam se é de vodca ou de saquê. São raros os que têm carta de cachaça."

"CACHACIER"
A ideia, então, era fazer dos alunos razoáveis entendedores do assunto.
Na sala, em um hotel de Ipanema, mais cinco candidatos a "cachacier".
Causou estranheza uma recomendação: a de evitar desodorante, para reduzir a interferência no olfato.
Mas, até que a bebericação começasse, muita teoria pela frente. Câmara falou e falou. Em cinco minutos, disse a palavra cachaça 36 vezes.
O curso passa pela história desde o primeiro alambique, em São Vicente (São Paulo), no século 16. Por termos complexos das propriedades químicas. Pelas classificações da cachaça, de nova fresca -recém-saída da destilaria- a reserva especial -quando são curtidas por mais de três anos.
Às 16h06, começou, enfim, a bebedeira. "Cachaça não tem buquê. Cachaça só tem um cheiro. De cana!"
Em pouco mais de uma hora, cinco doses de pinga. Ou "mé". Ou "amorosa". Sinônimos de uma enorme lista distribuída aos alunos.
Não dá para se tornar um especialista. Mas dá para sair entendendo mais do assunto. E para ficar tonto.
Faltou um tira-gosto. Ou "bota-gosto", como o professor pede, com razão, que sejam chamados salaminhos, bolinhos e azeitonas.


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