São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011

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VINHOS O prazer de beber sem altas viagens

Enólogo "ovelha negra"


Filho de grande produtor não segue o caminho do pai e monta vinícola com uvas variadas no Uruguai


"QUER PROVAR OS VINHOS? Comece pelo branco." "Hum, muito frutado. Ele cresce na boca, mas não parece ter madeira."
"Não tem. As uvas são fermentadas em tanques de inox, a baixa temperatura, e depois eu deixo o vinho algum tempo em contato com as borras das leveduras, por isso esse volume de boca que você notou. Quer provar os tintos?"
Foi assim, de supetão, que Gabriel Pisano, um jovem enólogo uruguaio, da Viña Progreso, me fisgou numa movimentada feira que aconteceu em maio, em São Paulo.
Aos 27 anos, ele tem um estilo despojado -cabelo preto, liso e bagunçado, e a barba por fazer- e o entusiasmo típico dos que debutam no reino do vinho. Não é um produtor convencional, e seus rótulos espelham isso. Num país onde o carro-chefe é variedade tinta tannat, abriu alas para um branco feito com viognier e um rosé à base de syrah. E tem os varietais sangiovese e cabernet franc no portfólio.
Tudo começou como uma mera experiência de um enólogo "preguiçoso", como se intitulou. Veio com preguiça quando eu lhe perguntei sobre o volume de produção: 50 mil garrafas por ano. É pouco? É. Mas é muito, quando essa quantidade é elaborada por uma única pessoa. Sendo assim, ele está mais para produtor "faz-tudo".
Gabriel pertence ao clã Pisano, um nome importante no panorama vinícola uruguaio. E o mais natural é que entrasse para os negócios da família. Dito e feito. Até que, em 2006, deparou-se com uma safra de tannat tão boa, de uma vinha com mais de 50 anos de idade, e não teve dúvidas: separou as melhores uvas para uma alquimia sui generis -fermentou-as em barricas de carvalho abertas. Fez tudo manualmente: a colheita, a separação dos bagos do engaço e a prensagem. "Eu só queria testar algo diferente."
Esse algo diferente se repetiu em 2008, quando comprou uvas de diversos agricultores e alugou uma pequena adega para elaborar outros seis varietais. Hoje eles estão pelo mundo. Chegaram ao Brasil no início do ano e já alcançaram o Canadá, a Alemanha e a Suécia.
A história de Gabriel me fez lembrar da trajetória da portuguesa Filipa Pato, também descendente de um "monumento da vitivinicultura local" -o produtor Luis Pato, da Bairrada. Foi a Bordeaux, à Argentina e à Austrália, mas quando retornou a Portugal, não se contentou em seguir a cartilha paterna.
Suas novas ideias se traduziram em estudar o comportamento de cada variedade típica sob as condições da Bairrada e tirar o melhor proveito delas. Estreou, em 2001, a linha Ensaios, com branco e tinto.
Há seis anos, provei o branco feito com as variedades arinto e bical pela primeira vez. E até hoje consigo me lembrar dele: frutado, mineral, com acidez na medida e um amanteigado no paladar. A versão tinto, que degustei agora, não passa por madeira, isso para manter em evidência a expressão das uvas touriga nacional, alfrocheiro e baga.
Soube que a última safra foi de 2009. Os vinhos feitos em 2010 aparecerão com outro nome e roupagem: FP - Vinhos Autênticos, Sem Maquiagem. Faz sentido. Filipa, aos 36 anos -dez deles entre vinhas e barricas-, não faz mais ensaios.

Viña Progreso Reserva Viognier 2010
A casta do norte do Rhône adaptou-se ao microclima uruguaio e dá origem a este branco volumoso e frutado. O produtor recomenda o consumo até 2015
ONDE Vinci (tel. 0/xx/ 11/ 2797-0000)
QUANTO R$ 46

Ensaios Tinto 2008
O aroma se revela aos poucos: frutos vermelhos e própolis. Tem aquele frescor característico de uma zona de influência marítima. O paladar é ligeiro, com acidez e taninos marcantes. É um vinho gastronômico, acompanha pratos como macarrão ao sugo
ONDE Empório Mercantil (tel. 0/xx/ 11/3813-2929)
QUANTO R$ 44,50

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