São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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O FAMINTO Comida sem frescura

ANDRÉ BARCINSKI

Com baiacu não precisa de linguado


Uma iguaria no Japão e metade do preço da sardinha, o baiacu é desprezado por aqui


Sempre fui louco por comida japonesa. Tenho amigos que entendem muito do assunto e costumo acompanhá-los aos melhores restaurantes de São Paulo. Comer sushi é um dos grandes prazeres da vida.
Há cerca de um ano, eu me mudei para o litoral do Rio de Janeiro. E, ironia das ironias: quanto mais perto do mar, mais longe do sushi. Peixe há, o que não há é alguém para cortá-lo e servi-lo corretamente.
Desesperado, apelei: fiz um curso de sushi. Três aulas rápidas e aprendi o básico do básico: como escolher e limpar um peixe, o corte do peixe e o preparo do arroz.
Primeira lição: quem criou o ditado "apressado come cru" não sabia o que estava dizendo. Comida crua dá um trabalho dos diabos.
Depois de aprender as noções mais rudimentares do sushi, minha admiração pelos sushimen só cresceu. São verdadeiros artistas.
Com a empolgação de iniciante, logo comprei vários peixes e me lancei à tarefa de preparar meu primeiro combinado caseiro.
O começo é frustrante: meu primeiro sashimi parecia ter sido atropelado por um submarino.
Mas não vou desistir. Apesar dos contratempos, todos aqui em casa estão viciados em sushi.
Passamos horas nas peixarias, apalpando tainhas, checando o tom das guelras de xaréus e fiscalizando a clareza dos olhos dos robalos.
Estamos aprendendo também a dar valor aos peixes locais. Como o capucho, que também é conhecido como chinela. Trata-se de um dos peixes mais feios do mundo, com uma pele cinzenta e dura e uma boca que parece estar eternamente chupando manga.
Mas sua carne é uma maravilha: branquinha, macia e sem gordura. Um dos melhores sashimis que já provei. Não faz feio diante de um linguado, que custa oito vezes mais.
E o baiacu? Considerado iguaria no Japão, é desprezado por essas bandas. Custa metade do preço da sardinha. Mas a carne é deliciosa.
Comer sushi é viciante. Mais viciante ainda é fazer sushi. E, mesmo que os nossos niguiris caseiros ainda tenham um aspecto pouco atraente, pelo menos nós estamos nos divertindo.


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