São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2011 |
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O FAMINTO Comida sem frescura ANDRÉ BARCINSKI A confraria do miolo
OK, eu confesso, não adianta negar. Algumas coisas são mais fortes que nós. São como um vício, uma obsessão, desafiando a lógica. Não posso mais esconder esse segredo: sim, é verdade, eu como miolo! Não sei quando ou onde começou esse desvio de personalidade. Mas o fato é que eu adoro miolo. Pode ser frito, refogado, marinado ou, principalmente, doré. Fãs de miolo formam uma estranha confraria. Nesses tempos de correção política e "bom gostismo" gastronômico, somos vítimas de um patrulhamento extremo. Dizer, entre pessoas civilizadas, que você come cérebro de boi, é pior que bater na mãe ou votar no Bolsonaro. É o suficiente para mulher nenhuma olhar para você. Nos açougues, achar miolo é uma dificuldade. É preciso chamar o açougueiro de canto e sussurrar em seu ouvido, torcendo para ele não gritar na frente de todos e revelar o segredo. Na feira, é mais fácil achar Beluga que um pedaço de cérebro. Comer miolo em restaurantes também é um desafio. São poucos os lugares que ainda resistem. Em São Paulo, há o Gigetto (rua Avanhandava, 63, tel. 0/xx/11/ 3256-9804), que serve um doré. A Cantina 1020 (rua Barão de Jaguara, 1.012, tel. 0/xx/11/3208-9199), no Cambuci, oferece um miolo delicioso, com limão e pimenta. A iguaria não está no cardápio, mas pode pedir que eles servem. Outro programa imperdível para "mioleiros" é ir ao Abu Zuz (rua Miller, 662, tel. 0/xx/11/3315-9694), o tradicional libanês do Brás, que serve um shawarma -espécie de sanduíche- de miolo. A iguaria vem cozida, temperada com salsinha, pasta de alho e conservas, e envolta num pão sírio fininho e crocante. O local também serve miolo em porção. Uma delícia. Agora, estranho mesmo é descobrir que o tradicionalíssimo Cervantes (rua Prado Júnior, 335, tel. 0/xx/21/2275-6147), no Rio de Janeiro, conhecido por seus mitológicos sanduíches, serve um miolo empanado de primeira. "Tem gente que pede refogado", disse a atendente, por telefone. "Mas não sei como alguém pode comer aquilo. Eu não suporto nem o cheiro!" Texto Anterior: Mistura: Evento peruano espera atrair 300 mil Próximo Texto: Fogo alto - Alex Atala: A gastronomia está ficando chata Índice | Comunicar Erros |
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