São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2011

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Meu limão, meu limoeiro

Cada vez mais raro, o limão-galego perdeu espaço para o taiti; chefs resgatam essa e outras variedades, como o cravo

Isadora Brant/Folhapress
Ceviche marinado com tangerina e os limões cravo e siciliano, do Marakuthai

JULIANA CUNHA
MARÍLIA MIRAGAIA

DE SÃO PAULO

"Toda terça eu ia à feira com minha mãe e comprava limão-galego de baciada", lembra Beth Branco, chef do restaurante Beth Cozinha de Estar, em São Paulo.
"Hoje, entrou o taiti, que quebra um galho. Mas é uma diferença brutal", lamenta.
Essa fruta miúda, de casca fina e amarelada, tão fácil de ser encontrada quando Beth era pequena, virou artigo de luxo. "É difícil achar e o custo-be­nefício é ruim", diz.
Em São Paulo, Estado dono de mais da metade da produção de limões país, já está na categoria de artigos raros.
Afetados por doenças -uma bactéria chamada cancro cítrico e um vírus chamado tristeza dos citros-, os pomares desapareceram entre 1940 e 1980. Os pés definhavam e tinham de ser arrancados para que o problema não alcançasse outros cultivos.
O taiti surgiu como alternativa e, em pouco tempo, deslanchou no mercado. Foi assim que o "galeguinho" sumiu das prateleiras, das feiras e dos cardápios.
Mesmo com a escassez, restaurantes de São Paulo, como o Dois, buscam resgatá-lo. Lá, ele é combinado com melaço para untar a carne de porco. "Acho na feira, mas só às vezes", diz o chef Gabriel Broide. Na falta, usa o limão-cravo de um pé plantado no próprio restaurante.
No Dui, ele surge entre os drinques, como o de banana com limão-galego. "Lembra a infância, é mais ácido e permite mais combinações", diz o barman João Souza, 26.

TUDO DOMINADO
De casca verde e bri­lhante, o limão-taiti começou a ganhar espaço nos anos 80, como alternativa ao galego. Hoje, o Brasil é o maior produtor mundial de taiti, que dá mais de uma florada anual.
Sem sementes e com muito suco, perde pontos no apelo aromático. "Muda o sabor, muda a acidez e muda a casca. E a parte branca é amarga", diz Beth Branco.

CRAVO OU ROSA
O limão-cravo (também chamado de rosa ou cavalo) é uma espécie que apresenta mais perfume e doçura que os concorrentes.
Rugosidades na casca o tornam menos atraente, mas seu cultivo, por outro lado, tem poucas limitações.
"O cravo tem potencial para se tornar fruta de mesa e crescer no mercado", diz Jorgino Pompeu Júnior, pesquisador do Centro de Citricultura do IAC (Instituto Agronômico de Campinas).
A pouca oferta não é problema no Dois. Munido de seu próprio pé, a casa utiliza a fruta para aromatizar algodão-doce e em caipirinhas.
Gabriela Barreto, do Chou, o utiliza em pratos como a lula na chapa. "Faz muita diferença. Melhora o sabor, dá profundidade. É um luxo", diz ela que, quando pequena, "tinha mania de to­mar limonada na mamadeira desse limão bem docinho".

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Veja receitas com os limões cravo e galego
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