São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2011

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DEPOIMENTO ROBERTA SUDBRACK

Criança me dá frio na barriga e não paga no meu restaurante

ROBERTA SUDBRACK
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cozinhar para criança é uma barra. E uma farra! Na minha cozinha, todas as vezes que somos informados de que há uma criança à mesa o frio na barriga é geral.
Todo mundo sabe que criança não só não tem papas na língua, como também não vai se contentar com uma papinha qualquer.
Passado o susto, ficamos todos na expectativa. A torcida geral é para que o pequeno ou a pequena escolha o nosso menu-degustação.
Não temos um menu específico para crianças, não gostamos de tratá-las como tais.
Gostamos de tratá-las como descobridores, desbravadores destemidos. Temos a sensação de que esses desbravadores, que já vêm de fábrica munidos de menos pudores e mais curiosidade, se entregam com mais facilidade e, por consequência, vivem a experiência com mais propriedade.
Sem tanto juízo, seja de valor ou qualquer outro, tudo fica mais fácil. Por falar em valor, criança não paga no meu restaurante. Consideramos um privilégio o desafio de cozinhar para elas.
Toda vez que entra na cozinha uma comanda com menu-degustação escolhido por uma criança, essa comanda vai direto para a zona de atenção máxima. Zona essa que é mais "alerta vermelho" do que, por exemplo, mesa com uma pessoa só, mesa que está tirando muita foto, mesa que está fazendo anotações... Em dia de mesa de criança, quem vai preparar o prato dela sou eu, mas não sem o inevitável -e adorável!- frio que sinto na barriga.
Nessas ocasiões, basta o garçom voltar para a cozinha e eu pergunto: "Alguém falou alguma coisa, pediu para repetir?". O garçom responde: "Quem, chef? A senhora está falando do sujeito da mesa que não para de fazer anotações?". Respondo: "Claro que não! Que mesa é essa?".

A chef ROBERTA SUDBRACK foi cozinheira do Palácio da Alvorada no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e é dona de um restaurante homônimo no Rio



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