São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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SEGURANÇA

Lei determina que a altura máxima passe para 4 m; especialistas se dividem quanto à eficácia contra ladrões

Muros de São Paulo "ganham" um metro

André Sarmento/Folha Imagem
A empresária Janine Saponara trocou muro alto por grades vazadas para ter boa visibilidade da rua


BRUNA MARTINS FONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os muros frontais das moradas paulistanas agora contam, legalmente, com mais um metro de altura. Uma lei sancionada em fevereiro muda um item do Código de Obras e determina que o limite vertical, que era de três metros, passe para quatro metros.
"Na prática, todo mundo já vinha aumentando a altura dos muros por conta própria, por razões de segurança", explica o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PL), 53, autor da lei. Ele acrescenta que, de acordo com estudo feito por uma equipe de técnicos, a altura de quatro metros foi considerada a ideal para evitar que um invasor pule o muro com facilidade.
"Como princípio, a idéia é boa, porque dificulta a invasão, mas uma casa segura precisa agregar outros sistemas e procedimentos de segurança", pondera Benny Zolondez, 33, diretor da Icat Global, especializada em planejamento estratégico de segurança.
Para George Dantas, 51, consultor em segurança pública, a medida aumenta a sensação de proteção. "Mas não inibe o roubo, que exige planejamento", afirma. "Quanto mais as pessoas se isolam, mais perigoso se torna o espaço público abandonado."
Por outro lado, o arquiteto Paulo Sophia, 47, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, não simpatiza com a nova lei. "O muro alto prejudica a ventilação e a iluminação da casa. Em vez de construir uma cidade, erguem-se guetos e fortalezas."

Multa
Quem tiver muros com altura superior a quatro metros pode ser multado em R$ 28 para cada metro quadrado irregular (veja no quadro nesta página como fazer esse cálculo) e tem de corrigi-lo.
As muralhas também podem ter o efeito contrário na hora de sair de casa. Sem câmeras de vídeo, não permitem ter visibilidade da rua e deixam o morador suscetível à abordagem de alguém que esteja de tocaia.
"É preferível optar pela grade, porque o lado de fora fica visível", opina José Vicente da Silva Filho, 57, ex-secretário nacional da Segurança Pública e consultor na área. "Segundo recomendações das polícias internacionais, a casa fica mais segura com grade e iluminação externa."
Esse foi o conselho que a empresária Janine Saponara, 35, recebeu de um policial, de um engenheiro e de um consultor em segurança. "Eles disseram que o muro deixaria a casa mais vulnerável, especialmente porque a rua onde moro é muito movimentada", diz.
A saída foi fechar a entrada com grades, para que, em caso de invasão, o ladrão fosse percebido por quem passasse na rua.
Já a hoteleira Laurane Duarte Cancela, 34, sente-se segura com a morada ladeada por muros altos. "Antes o muro era baixo, tanto que eu e meu irmão brincávamos de pular para fora e para dentro."
Um dia, a casa foi roubada, e os ladrões deram dicas de segurança. "Eles disseram que a gente devia aumentar o muro e comprar um cachorro", lembra Cancela. Dito e feito. Com muros altos, cerca elétrica e câmeras, em 18 anos a casa não voltou a ser invadida. "A gente se sente numa fortaleza."


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