São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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DEMOLIÇÃO

Dormente se transforma em batente de porta, janela faz a vez de biombo, e gradil aparece como tampo de mesa

Materiais "reencarnam" com nova função

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A melhor maneira de valorizar o "tesouro" encontrado no depósito de material de demolição é achar uma utilização diferente daquela que a peça tinha antes de vir abaixo. "É preciso saber inovar. Esse é o ponto forte da decoração feita com esse tipo de material", explica o arquiteto Léo Shehtman.
No processo, vale tudo. Banheiras viram fontes de jardim, janelas passam a ser usadas como biombos, dormentes de linha de trem se transformam em batentes de portas e janelas, gradis aparecem como belos tampos de mesas.
São inúmeras as possibilidades de adaptação. "A imaginação é o limite. Dispondo de bons profissionais de marcenaria e serralheria, é possível adaptar os objetos de acordo com o ambiente sem descaracterizá-los", explica a arquiteta Carolina Albuquerque, 28.
Outra dica para produzir uma releitura é utilizar itens de demolição como matéria-prima para idéias novas. Um exemplo clássico é a utilização de ripas de pinho-de-riga na construção de móveis, lambris, bancadas de bar, molduras de lareira, "borders" de mesa, assoalhos e até cabeceira de cama.
"Os tijolos também são uma matéria-prima que imprime estilo à decoração. Antes cobertos pelo reboco, tinham apenas a função estrutural. Agora ficam à vista, em paredes de ambientes nobres, como a sala de jantar e a de visitas", lembra Albuquerque.

História
Tão importante quanto saber escolher é conhecer os cuidados com a manutenção das peças. Isso evita futuros problemas e, muitas vezes, é o que mantém o aspecto original dos objetos.
A maioria dos depósitos vende o material já pronto para ser utilizado. Quando isso não acontece, o correto é recorrer a oficinas especializadas em restauração.
"É fundamental não descaracterizar as peças. Sinais como buracos de pregos na madeira, por exemplo, devem ser mantidos. Tudo que é visual não deve ser transformado, apenas o que representar um risco de manutenção para o material. É interessante ficar evidente a origem e o tempo das peças", conta a arquiteta Ana Maria Vieira Santos.
Para o também arquiteto Gil Carvalho, 47, "o bacana é tirar partido da história desses elementos e mostrar que são peças de demolição, exclusivas e originais".

Preço
Mas toda essa história tem um preço, que pode variar de R$ 30 a R$ 15 mil por artigo, com chance de extrapolar esse limite, dependendo da procedência do objeto. O valor é calculado de acordo com a época, o lugar, o tipo de arquitetura e as pessoas que habitaram a construção original.
"Tudo tem um contexto. Quando adquirimos os materiais, sabemos exatamente onde, quando e como foram utilizados. Muitas vezes, a história de vida de uma família é o que determina o preço final do produto", explica Iracema Rodrigues Arcanjo dos Santos, 59, proprietária de O Velhão, um dos maiores depósitos de "antiguidades" de São Paulo.
"Essas peças agregam cultura, conhecimento e fragmentos da história. Isso valoriza a decoração com material de demolição", define a arquiteta Bya Barros, 41.
Apesar da importância do passado, muitos arquitetos e decoradores chegam a um depósito estimulados muito mais por fatores econômicos do que históricos.
"Em geral, as peças são mais baratas, mas pode acontecer de uma ou outra ter um preço mais elevado, em função de sua procedência", ensina o arquiteto e paisagista Alex Hanazaki, 27. (IL)


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