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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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FEHAB

Estrela da feira, a "Smart Home" tem madeira de reflorestamento na estrutura e sistema que reutiliza água de chuva e de esgoto

Projetos perseguem a correção ambiental

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Alguns expositores da 19ª Fehab ouviram os gritos de socorro da Terra e apresentam projetos que levam o carimbo de "ecologicamente corretos". O exemplo mais reluzente é a "Smart Home", uma das casas à mostra na cidade tecnológica montada no pavilhão azul do Expo Center Norte.
O modelo utiliza madeira de reflorestamento na estrutura e é auto-sustentável nas partes energética e hidráulica, pois conta com sistemas de reaproveitamento de água pluvial e até de esgoto.
"É uma construção que não agride o ambiente, não interfere no solo, tem preço compatível e melhor prazo de entrega, sem comprometer a qualidade", diz o engenheiro Luiz Alexandre Mucerino, 46, da Ecoplano.
Uma casa de 100 m2 com todos os itens da "Smart Home" custaria cerca de R$ 1.000 por m² e seria entregue em 120 dias, segundo a Ecoplano e a DP Engenharia, empresas envolvidas no projeto.
Outros itens presentes no modelo são o sistema de abastecimento hidráulico flexível Pex (polietileno reticulado) e o isolamento térmico e acústico com lã mineral nas paredes, além de telhado com impermeabilização.
Todos os materiais visam melhorar a qualidade da casa e facilitar a manutenção. A principal vantagem do Pex, por exemplo, é poder trocar os tubos sem quebrar a parede.
A tecnologia é mais usada por construtoras em edifícios, comerciais ou residenciais, e ainda não ganhou a casa das pessoas, de acordo com o engenheiro Ari Lopes Sardim, 37, da Sanhidrel, empresa especializada em instalações. "Para casas, normalmente utiliza-se a combinação de PVC para água fria e cobre para água quente. Em relação ao PVC, o Pex ainda sai mais caro", completa.

Água e esgoto
Uma das vedetes da casa é o sistema de captação e reaproveitamento de água pluvial.
Ele é composto de coletor, filtro e reservatório térreo ou enterrado. Com uma bomba, a água filtrada destina-se ao consumo não-potável, como irrigação de jardim, limpeza geral e descarga.
Segundo dados da Intecon Engenharia, responsável pelo sistema na feira, o valor do filtro fica em R$ 1.500, com instalação e sem reservatórios e bombas.
Na prática, sistemas como esse já são bastante utilizados. "Sempre que posso, coloco nos projetos que executo. O consumo de água é reduzido em 35%, e o valor gasto, pago em dois ou três anos", completa o engenheiro civil José Roberto Peres.
O professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) Racine Prado, 48, coordena ainda um estudo sobre a qualidade da água obtida pela chuva. "Acho a iniciativa de reutilização válida, mas é preciso saber para quais usos essa água pode ser liberada. Vamos avaliar a quantidade de coliformes fecais, de gases e o PH, entre outros itens."
O reaproveitamento de água também vai ser demonstrado no sistema de tratamento do esgoto. Por ele, os dejetos passam por filtros, decantação e desinfecção. Assim, a água sai 95% limpa para uso não-potável, segundo a Mizumo, que o fabrica.
"A solução exposta na feira é para uma casa com seis pessoas e custa R$ 4.200", conta Evandro Brás Calderoni, 31, gerente comercial da empresa.
O recurso ainda não é tão facilmente encontrado nas residências por causa do alto custo, de acordo com os profissionais consultados. "O sistema é eficiente, mas o custo é elevado, fora a manutenção. Com as contas, os clientes não colocam", diz Peres.

Estrutura
Para pôr a casa de pé em pouco tempo e sem desperdícios, os engenheiros optaram pelo sistema "wood frame" (quadro de madeira, em inglês). São perfis dispostos a cada 40 cm ou 60 cm que formam uma rede, na qual serão fixadas as paredes de placas.
"As paredes são feitas com gesso acartonado, lã mineral no centro, para garantir o isolamento térmico, OSB [sigla para "Oriented Strand Board", chapa de alta resistência feita com lascas de pínus] na parte externa, além de manta impermeabilizante", diz Gabriel Kalili, 42, um dos arquitetos envolvidos no projeto.
De acordo com o professor da Poli-USP Vanderley John, o OSB é utilizado com sucesso nos Estados Unidos há mais de 30 anos, como base para piso, parede ou telhado (na feira, o material é demonstrado nas três situações).
"Para usar o OSB, é preciso ter muito conhecimento técnico. Se empregado com a espessura certa, com materiais e estrutura adequados, pode resultar em uma excelente parede", conclui.
(ANDREA MIRAMONTES)


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